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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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70 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

partir do estudo cui<strong>da</strong>doso de diversas línguas hoje encontra<strong>da</strong>s, não é nem uma<br />

língua antiga nem uma língua real, recupera<strong>da</strong> em todos os seus componentes.<br />

O termo “bantu comum” ou “proto -bantu” designa apenas o sistema constituído<br />

pelos elementos comuns às línguas bantu conheci<strong>da</strong>s; tais elementos remontam<br />

a uma época em que essas línguas eram quase idênticas. O mesmo ocorre com<br />

o “indo -europeu”, por exemplo. No nível estrito <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, a arqueologia<br />

linguística é, no limite, uma pura ilusão, porque, <strong>da</strong> época mais antiga, pré-<br />

-histórica, em que se falava a língua comum recupera<strong>da</strong>, não subsiste nenhum<br />

traço histórico ou linguístico.<br />

O interesse <strong>da</strong> linguística histórica reside menos em reencontrar uma<br />

“língua comum pré -dialetal” do que em detectar, por assim dizer, a amplitude<br />

linguística total de diversas línguas aparentemente estranhas umas às outras.<br />

Muito raramente uma língua se encerra num espaço claramente definido.<br />

Na maioria <strong>da</strong>s vezes, ela ultrapassa sua própria área, mantendo com outras<br />

línguas mais ou menos distantes relações às vezes imperceptíveis à primeira<br />

vista. O grande problema subjacente é, evidentemente, o do deslocamento <strong>da</strong>s<br />

populações. Uma comuni<strong>da</strong>de linguística não se confunde forçosamente com<br />

uma uni<strong>da</strong>de racial. No entanto, ela fornece informações pertinentes sobre<br />

uma uni<strong>da</strong>de essencial, na ver<strong>da</strong>de a única: a uni<strong>da</strong>de cultural básica que existe<br />

entre os povos linguisticamente unidos, mesmo que tais povos tenham às vezes<br />

origens muito diversas e sistemas políticos completamente diferentes. A família<br />

“Níger -Congo”, por exemplo, embora não tenha sido ain<strong>da</strong> bem estabeleci<strong>da</strong>,<br />

aponta a existência de laços socio culturais muito antigos entre os povos do<br />

oeste atlântico, os povos Mande, Gur e Kwa, os povos situados entre o Benue e<br />

o Congo (Zaire ), os povos do A<strong>da</strong>maua oriental e os Bantu, <strong>da</strong> <strong>África</strong> central,<br />

oriental e meridional.<br />

A linguística histórica é portanto uma fonte preciosa <strong>da</strong> história africana,<br />

assim como a tradição oral, que foi durante muito tempo despreza<strong>da</strong>. Ora, às<br />

vezes a tradição oral constitui a única fonte imediatamente disponível. É o caso,<br />

por exemplo, dos Mbochi do Congo. A história de suas diferentes chefias só<br />

pode ser reconstituí<strong>da</strong>, no espaço e no tempo (um tempo relativamente curto, é<br />

ver<strong>da</strong>de), com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> tradição oral. Esta pode também resolver uma questão<br />

onde o documento escrito permanece impotente. Os cronistas (Delaporte, 1753;<br />

Droyat, 1776) são unânimes em afirmar que os reis de Loango (<strong>África</strong> central<br />

ocidental) eram sepultados em dois cemitérios distintos: em Lubu e Luandjili.<br />

Quando e por que ocorreu uma tal distinção? A esse respeito, os documentos<br />

escritos até hoje conhecidos permanecem mudos. Só a tradição oral dos Vili<br />

atuais permite explicar essa duali<strong>da</strong>de. De acordo com ela, foi uma querela

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