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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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154 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

ambiente e as ativi<strong>da</strong>des que dele dependem, mas, além disso, deve -se contá -los<br />

em uni<strong>da</strong>des de tempo estrutural. Mesmo nesse caso, a semana é determina<strong>da</strong><br />

por um ritmo social, como, por exemplo, a periodici<strong>da</strong>de dos mercados, que<br />

também é associa<strong>da</strong>, em muitos casos, a uma periodici<strong>da</strong>de religiosa.<br />

Períodos mais longos que o ano são contados pela iniciação a um culto,<br />

a um grupo de i<strong>da</strong>de, por reinos ou gerações. A história <strong>da</strong>s famílias pode<br />

ser estabeleci<strong>da</strong> com base nos nascimentos, que constituem um calendário<br />

biológico. Fazem -se referências a acontecimentos excepcionais, como grandes<br />

fomes, grandes deflagrações de doença animal, ou epidemias, cometas, pragas de<br />

gafanhotos, mas esse calendário de catástrofes é forçosamente vago e irregular.<br />

À primeira vista, esse tipo de computação parece ser de pouca utili<strong>da</strong>de para<br />

a cronologia, enquanto os acontecimentos recorrentes parecem possibilitar a<br />

conversão <strong>da</strong> cronologia relativa em cronologia absoluta, uma vez conheci<strong>da</strong><br />

a frequência <strong>da</strong>s genealogias, grupos de i<strong>da</strong>de, reinos, etc. Voltaremos a esse<br />

assunto posteriormente.<br />

A profundi<strong>da</strong>de temporal máxima alcança<strong>da</strong> pela memória social depende<br />

diretamente <strong>da</strong> instituição que está liga<strong>da</strong> à tradição. Ca<strong>da</strong> instituição tem<br />

sua própria profundi<strong>da</strong>de temporal. A história <strong>da</strong> família não remonta à um<br />

passado muito distante porque esta conta apenas três gerações, e porque, de<br />

modo geral, há pouco interesse em lembrar acontecimentos anteriores. Portanto,<br />

as instituições que englobam maior número de pessoas se prestam melhor a nos<br />

fazer mergulhar mais fundo no tempo. Isso se verifica para o clã, a linhagem<br />

máxima de descendência, o grupo de i<strong>da</strong>de do tipo massai e a realeza. Na savana<br />

su<strong>da</strong>nesa, as tradições dos reinos e impérios de Tecrur, Gana e Mali, retoma<strong>da</strong>s<br />

por autores árabes e su<strong>da</strong>neses, remontam ao século XI. Às vezes, entretanto,<br />

to<strong>da</strong>s as instituições são limita<strong>da</strong>s pela mesma concepção <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>de do<br />

tempo como, por exemplo, entre os Bateke (República Popular do Congo), onde<br />

tudo é remetido à geração do pai ou do avô. Tudo, inclusive a história <strong>da</strong> família<br />

real, é dividido entre par e ímpar, o ímpar pertencendo ao tempo dos “pais”, e<br />

o par, ao dos “avós”.<br />

Esse exemplo mostra que a noção <strong>da</strong> forma do tempo é muito importante. Na<br />

região interlacustre, há casos em que o tempo é visto como um ciclo. Mas, como<br />

os ciclos se sucedem, o conceito vai <strong>da</strong>r numa espiral. Numa outra perspectiva,<br />

para as mesmas socie<strong>da</strong>des, distinguem -se eras, principalmente a era do caos e<br />

a era histórica. Para outras, como entre os Bateke, o tempo não é linear: oscila<br />

entre gerações alterna<strong>da</strong>s. As consequências sobre o modo como se apresentam<br />

as tradições são evidentes.

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