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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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4 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

norte <strong>da</strong> <strong>África</strong> e um importante historiador, Marc Bloch 2 , utilizou -o para sua<br />

brilhante explicação <strong>da</strong> história <strong>da</strong> Europa no início <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média. Ora, Ibn<br />

Khaldun distingue -se de seus contemporâneos não somente por ter concebido<br />

uma filosofia <strong>da</strong> história, mas também – e talvez principalmente – por não ter,<br />

como os demais, atribuído o mesmo peso e o mesmo valor a todo fragmento de<br />

informação que pudesse encontrar sobre o passado; acreditava que era preciso<br />

aproximar -se <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de passo a passo, através <strong>da</strong> crítica e <strong>da</strong> comparação.<br />

Ibn Khaldun é, realmente, um historiador muito moderno e é a ele que<br />

devemos o que se pode considerar quase como história <strong>da</strong> <strong>África</strong> tropical, em<br />

sentido moderno. Na quali<strong>da</strong>de de norte -africano e também pelo fato de ter<br />

trabalhado, a despeito <strong>da</strong> novi<strong>da</strong>de de sua filosofia e de seu método, no quadro<br />

<strong>da</strong>s antigas tradições mediterrâneas e islâmicas, ele não deixou de se preocupar<br />

com o que ocorria no outro lado do Saara. Assim, um dos capítulos de sua obra 3<br />

é uma história do Império do Mali, que na época em que ele viveu atingia seu<br />

auge. Esse capítulo é parcialmente fun<strong>da</strong>mentado na tradição oral <strong>da</strong> época e,<br />

por esta razão, permanece até hoje como uma <strong>da</strong>s bases essenciais <strong>da</strong> história<br />

desse grande Estado africano.<br />

Nenhum Estado vasto e poderoso como o Mali, nem mesmo os Estados<br />

de menor importância como os primeiros reinados haussa ou as ci<strong>da</strong>des<br />

independentes <strong>da</strong> costa oriental <strong>da</strong> <strong>África</strong>, podiam manter sua identi<strong>da</strong>de ou<br />

sua integri<strong>da</strong>de sem uma tradição reconheci<strong>da</strong> relativa à sua fun<strong>da</strong>ção e ao seu<br />

desenvolvimento. Quando o Islã atravessou o Saara e se expandiu ao longo <strong>da</strong><br />

costa oriental trazendo consigo a escrita árabe, os negros africanos passaram a<br />

utilizar textos escritos ao lado dos documentos orais de que já dispunham para<br />

conservar sua história.<br />

Os mais elaborados dentre esses primeiros exemplos de obras de história<br />

atualmente conhecidos são provavelmente o Ta’rikh al ‑Su<strong>da</strong>n e o Ta’rikh<br />

el ‑Fattash, ambos escritos em Tombuctu, principalmente no século XVII 4 . Nos<br />

dois casos, os autores fazem um relato dos acontecimentos de sua época e do<br />

período imediatamente anterior, com muitos detalhes e sem omitir a análise<br />

e a interpretação. Mas antecedendo esses relatos críticos há também uma<br />

evocação <strong>da</strong>s tradições orais relativas a períodos mais antigos. Dessa forma, o<br />

2 Ver sobretudo BLOCH, M. 1939, p. 91.<br />

3 Na tradução de M. G. DE SLANE, intitula<strong>da</strong> Histoire des Berbères (1925 -1956), este capítulo figura no<br />

volume 2, p. 105 -16.<br />

4 O Ta’rikh al ‑Su<strong>da</strong>n foi traduzido para o francês e comentado por O. HOUDAS (1900); o Ta’rikh<br />

el ‑Fattash, por O. HOUDAS e M. DELAFOSSE (1913).

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