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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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Tendências recentes <strong>da</strong>s pesquisas históricas africanas e contribuição à história em geral<br />

em que o racismo pseudocientífico ocidental do século XIX estabeleceu uma<br />

escala de valores levando em conta as diferenças físicas, sendo a mais evidente<br />

dessas diferenças a cor <strong>da</strong> pele, os africanos situaram -se automaticamente na<br />

base dessa escala, por serem os que mais se diferenciavam dos europeus, que<br />

automaticamente outorgaram a si mesmos o nível mais alto. Os racistas não<br />

cessavam de proclamar que a história <strong>da</strong> <strong>África</strong> não tinha importância nem<br />

valor: os africanos não poderiam ser os autores de uma “civilização” digna desse<br />

nome e por isso não havia entre eles na<strong>da</strong> de admirável que não houvesse sido<br />

copiado de outros povos. É assim que os africanos se tornaram objeto – e<br />

jamais sujeito – <strong>da</strong> história. Eram considerados aptos a recolher as influências<br />

estrangeiras sem <strong>da</strong>r em troca a mínima contribuição ao mundo.<br />

O racismo pseudocientífico exerceu sua influência máxima no início do século<br />

XX. Após 1920, tal influência declinou entre os especialistas em ciências sociais e<br />

naturais, e após 1945, virtualmente desapareceu dos meios científicos respeitáveis.<br />

Mas a herança desse racismo perpetuou -se. Ao nível dos conhecimentos do<br />

homem comum, o racismo alimentava -se de um recrudescimento <strong>da</strong>s tensões<br />

sociais urbanas que coincidiam com o aparecimento, nas ci<strong>da</strong>des ocidentais,<br />

de um número ca<strong>da</strong> vez maior de imigrantes de origem africana ou asiática.<br />

Ele se apoiava na lembrança, ain<strong>da</strong> viva na população, <strong>da</strong>s lições aprendi<strong>da</strong>s na<br />

escola; para os escolares de 1910 – época em que o racismo pseudocientífico<br />

constituía a doutrina oficial <strong>da</strong> biologia – a hora <strong>da</strong> retira<strong>da</strong> só deveria soar após<br />

1960. Bem mais insidiosa ain<strong>da</strong> foi a sobrevivência <strong>da</strong>s conclusões fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s nas<br />

alegações racistas, depois que estas perderam sentido. O postulado “a história <strong>da</strong><br />

<strong>África</strong> não oferece interesse porque os africanos são uma raça inferior” tornou -se<br />

insustentável, mas certos intelectuais ocidentais se recor<strong>da</strong>vam vagamente de<br />

que “a <strong>África</strong> não tem passado”, ain<strong>da</strong> que houvessem esquecido a razão.<br />

Sob esta ou outra forma, a herança do racismo não cessava de consoli<strong>da</strong>r<br />

um chauvinismo cultural que considerava a civilização ocidental como a única<br />

ver<strong>da</strong>deira “civilização”. No fim dos anos 60, sob o simples título “Civilização”,<br />

a BBC apresentou uma longa série de programas consagrados exclusivamente à<br />

herança cultural <strong>da</strong> Europa Ocidental. Sem dúvi<strong>da</strong>, de tempos em tempos outras<br />

socie<strong>da</strong>des eram considera<strong>da</strong>s “civiliza<strong>da</strong>s”; mas em meados do século, o grau de<br />

alfabetização determinava a linha de demarcação entre a civilização e o resto.<br />

Em grande parte iletra<strong>da</strong>s na época pré -colonial, as socie<strong>da</strong>des africanas eram<br />

rebaixa<strong>da</strong>s à categoria de “primitivas”. No entanto, a maior parte <strong>da</strong> <strong>África</strong> era,<br />

de fato, letra<strong>da</strong>, no sentido de que uma classe de escribas sabia ler e escrever –<br />

mas não, certamente, no sentido de uma alfabetização maciça, que por to<strong>da</strong> parte<br />

havia sido um fenômeno pós -industrial. A Etiópia possuía sua antiga escrita em<br />

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