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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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Fontes e técnicas específicas <strong>da</strong> história <strong>da</strong> <strong>África</strong> – Panorama Geral<br />

Com efeito, os conceitos de “reino”, “nação”, “Estado”, “império”, “democracia”,<br />

“feu<strong>da</strong>lismo”, “partido político”, etc., utilizados em outros lugares certamente<br />

de maneira adequa<strong>da</strong>, nem sempre são automaticamente aplicáveis à reali<strong>da</strong>de<br />

africana.<br />

O que se deve entender, exatamente, por “reino do Kongo”, por exemplo? O<br />

próprio povo usa a expressão nsi a Kongo, literalmente, “o país (nsi) dos Kongo”.<br />

Temos então um grupo étnico (os Kongo), uma região (nsi) e a consciência<br />

que tal grupo tem de habitar essa região, que assim se torna o país (nsi) do<br />

grupo étnico em questão. Os limites ou fronteiras são bastante fluidos, pois<br />

são função <strong>da</strong> dispersão dos clãs e subgrupos <strong>da</strong> etnia considera<strong>da</strong>. A palavra<br />

“reino” corresponde aqui a um território habitado exclusivamente por homens e<br />

mulheres pertencentes a uma mesma etnia. A homogenei<strong>da</strong>de étnica, linguística<br />

e cultural é essencial. O “rei” (mfumu) é na reali<strong>da</strong>de o mais velho (mfumu), o<br />

tio materno (mfumu) de to<strong>da</strong>s as famílias (nzo) e de todos os clãs matrilineares<br />

(makan<strong>da</strong>) que reconhecem ancestrais fun<strong>da</strong>dores comuns (bankulu mpangu).<br />

Quando se examina a reali<strong>da</strong>de mais de perto, o “reino do Kongo” resume-<br />

-se, em definitivo, a uma vasta chefia, isto é, a um sistema de governo que<br />

engloba pequenas chefias locais. O “rei” é o mais velho dos anciãos, o tio materno<br />

mais idoso entre os vivos; por isso é um ntinu, “chefe supremo”. A expressão<br />

“reino do Kongo” não designa, portanto, um Estado governado por um rei, no<br />

sentido ocidental. Além do mais, esse sentido ocidental (reino de Luís XIV, por<br />

exemplo) é um sentido espúrio, tardio, inadequado, em suma, um caso particular<br />

de passagem do Estado a Estado nacional através <strong>da</strong> monarquia “absoluta”.<br />

Ao contrário, o “reino de Danxome” (atual Benin) aproxima -se mais do tipo<br />

de monarquia absoluta, desastrosamente encarna<strong>da</strong>, na França, pelos reinados<br />

de Henrique IV a Luís XVI. Existe, com efeito, um território principal e<br />

permanente, que, como assinala o professor M. Glélé, possui uma administração<br />

central: o rei e seus ministros e os delegados dos ministros. O rei é a própria<br />

essência do poder. Ele detém todos os atributos de autori<strong>da</strong>de e comando. Tem<br />

direito de vi<strong>da</strong> e morte sobre seus súditos, os anato, “pessoas do povo”, entre<br />

as quais o rei, senhor e proprietário de to<strong>da</strong>s as riquezas (dokunno), escolhia e<br />

recrutava os glesi, isto é, os agricultores que ele destinava aos seus domínios ou<br />

oferecia como presente aos príncipes e chefes. O poder central era exercido nas<br />

aldeias e regiões pelos chefes, em nome do rei. O “reino de Danxome” apresenta-<br />

-se portanto como uma organização estatal fortemente centraliza<strong>da</strong>, na qual<br />

se insere o sistema de descentralização administrativa constituído pela chefia.<br />

Existe assim um poder central que controla um povo (os Danxomenu) através<br />

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