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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição oral e sua metodologia<br />

Poderíamos ser tentados a seguir alguns estudiosos que acreditavam poder<br />

dizer a priori qual a natureza ou perfil do corpus de tradições históricas de uma<br />

determina<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, a partir <strong>da</strong> classificação <strong>da</strong>s coletivi<strong>da</strong>des em tipos<br />

como “Estados”, “socie<strong>da</strong>des sem Estado”, etc. Embora seja ver<strong>da</strong>de que as<br />

diversas socie<strong>da</strong>des africanas possam ser, grosso modo, classifica<strong>da</strong>s de acordo<br />

com tais modelos, é fácil demonstrar que essas tipologias podem se estender ao<br />

infinito, pois ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de é diferente, e os critérios utilizados são arbitrários<br />

e limitados. Não existem dois Estados idênticos ou mesmo semelhantes nos<br />

detalhes. Há imensas diferenças entre as linhas -mestras <strong>da</strong> organização <strong>da</strong>s<br />

socie<strong>da</strong>des Massai (Quênia - Tanzânia), Embu (Quênia), Meru (Quênia) e Galla<br />

(Quênia - Etiópia), embora to<strong>da</strong>s elas possam ser classifica<strong>da</strong>s como socie<strong>da</strong>des<br />

basea<strong>da</strong>s em classes etárias e estejam situa<strong>da</strong>s na mesma região <strong>da</strong> <strong>África</strong>. Se<br />

se desejasse examinar um caso de uma socie<strong>da</strong>de dita simples, sem Estado,<br />

composta de pequenos grupos estruturados por múltiplas linhagens, poder-<br />

-se -ia pensar que os Gouro (Costa do Marfim) constituíssem bom exemplo.<br />

Esperando encontrar um perfil de tradições contendo somente histórias de<br />

linhagens e genealogias – e realmente o encontramos –, deparamo -nos também<br />

com uma história esotérica transmiti<strong>da</strong> por uma socie<strong>da</strong>de secreta. Tomemos<br />

o caso dos Tonga do Zâmbia: encontramos novamente a história <strong>da</strong> linhagem,<br />

mas também histórias de centros rituais animados pelos fazedores de chuva.<br />

Não há uma única socie<strong>da</strong>de desse tipo que não apresente uma instituição<br />

importante “inespera<strong>da</strong>”. Entre os Estados, o caso extremo é, certamente, o do<br />

reino dos Bateke (Tio), em que a tradição real não remonta a mais do que duas<br />

gerações, embora os reinos devam ter tradições muito antigas. Podemos ir mais<br />

longe no tempo coligindo as tradições dos símbolos mágicos dos nobres do que<br />

seguindo as tradições relativas ao símbolo real! Generalizações apressa<strong>da</strong>s sobre<br />

o valor <strong>da</strong>s tradições seriam absolutamente desproposita<strong>da</strong>s. O perfil de um<br />

determinado corpus de tradições só pode ser determinado a posteriori.<br />

É evidente que as funções preenchi<strong>da</strong>s pelas tradições tendem a distorcê-<br />

-las. É impossível estabelecer uma lista completa dessas funções, em parte<br />

porque uma tradição pode assumir diversas funções e pode desempenhar um<br />

papel mais ou menos preciso ou difuso em relação a elas. Mas principalmente<br />

porque a palavra “função” é por si só confusa. É utiliza<strong>da</strong> com frequência para<br />

descrever tudo o que serve para fortalecer ou manter a instituição <strong>da</strong> qual<br />

depende. Como a relação não é tangível, a imaginação pode produzir uma<br />

lista infinita de funções “a preencher”, não sendo possível nenhuma escolha.<br />

Entretanto, não é difícil distinguir certos propósitos precisos, manifestos ou<br />

latentes, assumidos por algumas tradições. Há, por exemplo, as “cartas míticas”,<br />

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