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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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124 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

Fontes narrativas internas<br />

Durante o período que estamos estu<strong>da</strong>ndo, ocorreu um novo fenômeno, de<br />

consequências capitais: o aparecimento e desenvolvimento de uma literatura<br />

histórica escrita por africanos <strong>da</strong> região ao sul do Saara. O meio de expressão<br />

não era, inicialmente, nenhuma <strong>da</strong>s línguas africanas locais, mas, sim, o árabe –<br />

cujo papel no mundo islâmico pode ser comparado ao que o latim representou<br />

na I<strong>da</strong>de Média europeia, isto é, o meio de comunicação entre os povos cultos<br />

–, e, mais tarde, também algumas <strong>da</strong>s línguas europeias.<br />

A tradição historiográfica parece ter começado ao mesmo tempo no cinturão<br />

su<strong>da</strong>nês e na costa africana oriental, precisamente nas duas grandes regiões<br />

cobertas até essa época pelas fontes árabes externas e nas quais o Islã exerceu<br />

uma prolonga<strong>da</strong> influência. As mais antigas crônicas existentes <strong>da</strong>tam do início<br />

do século XVI, embora relatem eventos dos períodos anteriores. A primeira,<br />

o Ta’rikh al ‑Fattash, obra de três gerações <strong>da</strong> família Kati de Djenné, cobre<br />

a história do Songhai e dos países vizinhos até a conquista marroquina em<br />

1591. Mais extenso e mais rico em detalhes é o Ta’rikh al ‑Su<strong>da</strong>n, escrito pelo<br />

historiador de Tombuctu, El -Saadi, e que cobre em parte o mesmo período,<br />

continuando, porém, até 1655. Ambas são obras de grandes estudiosos, com um<br />

vasto campo de interesses e um conhecimento profundo dos acontecimentos<br />

seus contemporâneos. Mais significativo ain<strong>da</strong> é o fato de, pela primeira vez,<br />

podermos ouvir a voz de africanos autênticos, mesmo sabendo serem os autores<br />

francamente partidários do Islã e observarem os acontecimentos desse ponto de<br />

vista. No século XVIII tem origem uma história anônima, mas muito detalha<strong>da</strong>,<br />

dos paxás marroquinos de Tombuctu, entre 1591 e 1751, contendo também<br />

material útil dos países e povos vizinhos 69 . Outro tipo de fonte é representado<br />

pelo dicionário biográfico dos intelectuais do Sudão ocidental, compilado pelo<br />

famoso estudioso Ahmed Baba, de Tombuctu (morto em 1627) 70 . É à mesma<br />

região do Império Songhai que pertence o Ta’rikh Say, crônica árabe de Ibn<br />

Adwar, escrita, segundo dizem, em 1410. Se fosse autêntica, seria o mais antigo<br />

documento existente escrito na <strong>África</strong> ocidental. Contudo, parece ser, mais<br />

propriamente, uma versão tardia <strong>da</strong> tradição oral 71 .<br />

69 Tarikh al ‑Fattach. Trad. e comentado por O. HOUDAS e M. DELAFOSSE, Paris, 1913 (reed. 1964);<br />

Tarikh al ‑Su<strong>da</strong>n, trad. e comentado por O. HOUDAS, Paris, 1900 (reed. 1964); Tadhkirat es ‑nisyan, trad.<br />

e anotado por O. HOUDAS, Paris, 1899 (reed. 1964).<br />

70 Publicado em Fez, 1899, e no Cairo, 1912.<br />

71 Cf. MONTEIL, V. BIFAN 28, 1966, p. 675.

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