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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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28 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

objetos é que constituía a devolução jurídica do poder. O caso mais interessante<br />

é o dos Sonianke, descendentes de Sonni Ali, que possuem correntes de ouro,<br />

prata ou cobre, ca<strong>da</strong> elo <strong>da</strong>s quais representando um ancestral, e o conjunto<br />

simbolizando a descendência dinástica até Sonni, o Grande. No decorrer de<br />

cerimônias mágicas, estas correntes magníficas são regurgita<strong>da</strong>s diante de um<br />

público embasbacado. No momento de morrer, o patriarca sonianke regurgita<br />

a corrente pela última vez, fazendo com que o escolhido para seu sucessor<br />

engula -a pela outra extremi<strong>da</strong>de. Ele morre logo após ter passado sua corrente<br />

àquele que deve substituí -lo. Esse testamento vivo ilustra com eloquência a força<br />

<strong>da</strong> concepção africana do tempo mítico e do tempo social. Poder -se -ia pensar<br />

que uma tal visão do processo histórico seria estática e estéril, na medi<strong>da</strong> em que,<br />

ao colocar a perfeição do arquétipo no passado, na origem dos tempos, parece<br />

indicar como ideal para o conjunto <strong>da</strong>s gerações a repetição estereotipa<strong>da</strong> dos<br />

gestos e <strong>da</strong> gesta do ancestral. O mito não seria, assim, o motor de uma história<br />

imóvel? Ficará claro mais adiante que não podemos nos ater unicamente a esse<br />

enfoque do pensamento histórico entre os africanos.<br />

Por outro lado, o enfoque mítico – é preciso reconhecê -lo – está na origem <strong>da</strong><br />

história de todos os povos. To<strong>da</strong> história é originalmente uma história sagra<strong>da</strong>.<br />

Do mesmo modo, esse enfoque acompanha o desenvolvimento histórico,<br />

reaparecendo de tempos em tempos sob formas maravilhosas ou monstruosas.<br />

Entre elas está o mito nacionalista, que faz com que um determinado chefe de<br />

Estado contemporâneo se dirija ao seu país como a uma pessoa viva, e o mito<br />

<strong>da</strong> raça, sob o regime nazista, concretizado por rituais cujas origens remontam<br />

a um passado longínquo, que condenou milhões de pessoas ao holocausto.<br />

Os africanos têm consciência de ser<br />

os agentes de sua história?<br />

Certamente, durante alguns séculos o homem africano teve razões de sobra<br />

para não desenvolver uma consciência responsável. Excessivas imposições<br />

exteriores e alienantes domesticaram -no a tal ponto que mesmo quando ele<br />

vivia longe <strong>da</strong> costa onde se <strong>da</strong>va o aprisionamento de escravos e <strong>da</strong> área de<br />

influência do coman<strong>da</strong>nte branco, ele guar<strong>da</strong>va num canto qualquer de sua alma<br />

a marca aniquiladora <strong>da</strong> escravidão.<br />

Do mesmo modo, no período pré -colonial, numerosas socie<strong>da</strong>des africanas<br />

elementares, quase fecha<strong>da</strong>s, dão a impressão de que seus membros só tinham<br />

consciência de estar fazendo história numa escala e numa medi<strong>da</strong> bastante

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