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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição oral e sua metodologia<br />

pelos primeiros modelos escritos por africanos, como o livro de Johnson sobre<br />

o Reino Oyo (Nigéria) ou o de Kaggwa (Ugan<strong>da</strong>) para Bugan<strong>da</strong>. Deu -se uma<br />

contaminação geral de to<strong>da</strong>s as histórias tardiamente coloca<strong>da</strong>s em forma<br />

escrita no país Ioruba e na região interlacustre de fala inglesa, com tentativas<br />

de sincronização visando forçar as listas dinásticas a se igualarem, em extensão,<br />

às dos modelos. Esses dois exemplos mostram o quanto se deve ser prudente<br />

ao afirmar que as tradições são realmente independentes. Deve -se pesquisar os<br />

arquivos, estu<strong>da</strong>r os contatos pré -coloniais e ponderar tudo cui<strong>da</strong>dosamente,<br />

antes de se fazer qualquer julgamento.<br />

A comparação com <strong>da</strong>dos escritos ou arqueológicos pode fornecer a<br />

confirmação de independência deseja<strong>da</strong>. Mas, ain<strong>da</strong> neste caso, é preciso<br />

que a independência seja comprova<strong>da</strong>. O fato de autóctones atribuírem<br />

tradicionalmente um sítio visível aos primeiros habitantes do país, devido à<br />

presença no local de traços de ocupação humana muito diferentes dos deixados<br />

pelos habitantes atuais, não significa que se possa automaticamente fazer a<br />

mesma atribuição. As fontes não são independentes pois o sítio é atribuído a<br />

essas populações por um processo lógico e apriorístico! É um caso de iconatrofia.<br />

Essa constatação dá origem a interessantes especulações, especialmente no que<br />

diz respeito aos chamados vestígios de Tellem do país Dogon (Mali) assim como<br />

aos sítios Sirikwa (Quênia), para citar somente dois exemplos bem conhecidos.<br />

Contudo, os casos famosos dos sítios de Kumbi Saleh (Mauritânia) e do lago<br />

Kisale (Zaire) mostram que a arqueologia pode, às vezes, fornecer provas<br />

surpreendentes <strong>da</strong> vali<strong>da</strong>de de uma tradição oral.<br />

Geralmente, estabelecer uma concordância entre fonte oral e escrita fica<br />

difícil porque tratam de coisas diferentes. Um estrangeiro que escreve sobre<br />

um país habitualmente se restringe a fatos econômicos e políticos, muitas vezes<br />

ain<strong>da</strong> mal compreendidos. A fonte oral volta<strong>da</strong> para o interior menciona os<br />

estrangeiros apenas de passagem; quando o faz. Assim sendo, em muitos casos as<br />

duas fontes não têm na<strong>da</strong> em comum, ain<strong>da</strong> que se refiram ao mesmo período.<br />

Casos de concordância, cronológica principalmente, são encontrados em locais<br />

onde os estrangeiros se estabeleceram por tempo suficientemente longo para se<br />

interessarem pela política local e entendê -la. Tem -se um exemplo disso no vale<br />

do Senegal a partir do século XVIII.<br />

Em caso de contradição entre fontes orais, deve -se escolher a mais provável.<br />

A prática, muito difundi<strong>da</strong>, de tentar encontrar um acordo não faz sentido.<br />

Uma contradição flagrante entre uma fonte oral e uma fonte arqueológica se<br />

resolve em favor <strong>da</strong> última, se esta for um <strong>da</strong>do imediato, isto é, se a fonte<br />

for um objeto e não uma inferência, pois neste caso a probabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fonte<br />

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