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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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As fontes escritas anteriores ao século XV<br />

Áreas etnoculturais<br />

Ao examinar o primeiro ponto, seríamos tentados desde logo a fazer uma<br />

distinção elementar entre a <strong>África</strong> ao norte do Saara – <strong>África</strong> branca, arabeiza<strong>da</strong><br />

e islamiza<strong>da</strong>, profun<strong>da</strong>mente toca<strong>da</strong> pelas civilizações mediterrânicas e por isso<br />

mesmo desafricaniza<strong>da</strong> – e a <strong>África</strong> ao sul do Saara, negra, plenamente africana,<br />

dota<strong>da</strong> de uma irredutível especifici<strong>da</strong>de etno -histórica. Na ver<strong>da</strong>de, sem negar a<br />

importância dessa distinção, um exame histórico mais aprofun<strong>da</strong>do revela linhas<br />

de divisão mais complexas e menos níti<strong>da</strong>s. O Sudão senegalês e nigeriano, por<br />

exemplo, viveu em simbiose com o Magreb árabe -berbere e, do ponto de vista<br />

<strong>da</strong>s fontes, está muito mais próximo do Magreb que do mundo bantu. Acontece<br />

o mesmo com o Sudão nilótico em relação ao Egito, e com o chifre oriental<br />

<strong>da</strong> <strong>África</strong> em relação ao sul <strong>da</strong> Arábia. Assim somos tentados a opor uma<br />

<strong>África</strong> mediterrânica, desértica e de savana, incluindo o Magreb, o Egito, os dois<br />

Sudões, a Etiópia, o chifre <strong>da</strong> <strong>África</strong> e a costa oriental até Zanzibar, a uma outra<br />

<strong>África</strong> “animista”, tropical e equatorial – bacia do Congo, costa guineense, área<br />

do Zambeze -Limpopo, região interlacustre e, finalmente, a <strong>África</strong> do Sul. E é<br />

ver<strong>da</strong>de que essa segun<strong>da</strong> diferenciação se justifica, em grande parte, pelo critério<br />

de abertura para o mundo exterior e, nesse caso, pela importância <strong>da</strong> penetração<br />

islâmica. Esse fato de civilização é confirmado pelo estado <strong>da</strong>s fontes escritas,<br />

que opõem uma <strong>África</strong> bem servi<strong>da</strong> de documentos – com gra<strong>da</strong>ções norte -sul –<br />

a uma <strong>África</strong> completamente desprovi<strong>da</strong> deles, ao menos no período em estudo.<br />

Mas a dupla consideração <strong>da</strong> abertura para o exterior e do estado <strong>da</strong>s fontes<br />

escritas corre o risco de permitir julgamentos de valor e de ocultar sob o véu <strong>da</strong><br />

obscuri<strong>da</strong>de quase metade <strong>da</strong> <strong>África</strong> (central e meridional). Muitos historiadores<br />

já chamaram a atenção para o risco do “recurso às fontes árabes”, que poderia<br />

fazer crer, pela ênfase <strong>da</strong><strong>da</strong> à zona su<strong>da</strong>nesa, que tenha sido esta região o único<br />

centro de uma civilização e de um Estado organizados 4 . Voltaremos a esse ponto<br />

mais tarde. Contudo, reconheçamos desde já que, se há relação entre o estado<br />

de uma civilização e o estado <strong>da</strong>s fontes, essa relação jamais poderia explicar<br />

completamente o movimento <strong>da</strong> história real. O historiador objetivo não tem o<br />

direito de fazer julgamentos de valor com base nos documentos de que dispõe,<br />

mas também não deve negligenciar seu potencial informativo sob pretexto de<br />

que podem induzi -lo a erro.<br />

Se uma história geral, que abrange a totali<strong>da</strong>de do período histórico, apoiando-<br />

-se em todos os documentos disponíveis pode atribuir tanta importância à<br />

4 HRBEK, I. 1965, v. V, p. 311.<br />

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