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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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474 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

afugentar os pre<strong>da</strong>dores rivais, atirando -as por cima e por baixo do braço. E,<br />

ain<strong>da</strong>, comunicam -se entre si através de sinais sonoros. Observações semelhantes<br />

foram feitas em relação aos gorilas de Ruan<strong>da</strong> 2 .<br />

Desse modo, para que um utensílio possa ser considerado critério de<br />

hominização, não basta o conceito do emprego de um objeto externo aos<br />

“utensílios naturais” do ser vivo. Devemos considerar necessariamente o aspecto<br />

<strong>da</strong> transformação delibera<strong>da</strong>, <strong>da</strong> “preparação” desse instrumento. Essa concepção<br />

do utensílio vai -nos permitir <strong>da</strong>r uma resposta afirmativa à terceira pergunta,<br />

mas não à segun<strong>da</strong>.<br />

O utensílio nos permite delimitar o início <strong>da</strong> hominização?<br />

Na ver<strong>da</strong>de, o utensílio não nos permite delimitar o início <strong>da</strong> hominização.<br />

Em primeiro lugar porque o que chegou até nós foram apenas ossa<strong>da</strong>s fósseis<br />

e pedras. Sem querer fazer uma comparação etnográfica absur<strong>da</strong>, devemos<br />

lembrar que um grupo humano pode perfeitamente obter todos os seus<br />

utensílios exclusivamente do reino vegetal. Como exemplo, são sempre citados<br />

os Menkopis <strong>da</strong>s ilhas An<strong>da</strong>man. E, ao mesmo tempo, é tão indemonstrável<br />

quanto plausível o fato de que a árvore tenha oferecido aos primeiros hominídeos<br />

seus primeiros instrumentos na savana arboriza<strong>da</strong> dos planaltos africanos. E,<br />

quanto às ossa<strong>da</strong>s fósseis e aos dentes, R. Dart atribuiu aos australopitecíneos do<br />

Transvaal uma indústria basea<strong>da</strong> em ossos, dentes e chifres, que ele denominou<br />

osteodontoquerática e que ficou por muito tempo sub judice; adiante voltaremos<br />

ao assunto. R. van Riet Lowe distinguiu split e trimmed pebbles na Pebble<br />

Culture. Os primeiros, seixos simplesmente partidos, foram, de modo geral,<br />

postos em dúvi<strong>da</strong>. Está claro que, se a pedra que a mão humana apanhou e<br />

atirou não guardou nenhum traço visível dessa utilização, mesmo o seixo lascado<br />

pode ser um produto <strong>da</strong> natureza: as que<strong>da</strong>s d’água dos rios e as ressacas do<br />

mar fragmentam as pedras de modo que na<strong>da</strong> as diferencia <strong>da</strong>s que foram<br />

delibera<strong>da</strong>mente lasca<strong>da</strong>s pelo homem. A indústria do Kafuense não sobreviveu<br />

a esse teste.<br />

O texto de Teilhard de Chardin, do qual citei um trecho no início desta<br />

exposição, apresenta grandes erros e uma grave lacuna:<br />

“O homem fez sua entra<strong>da</strong> sem alarde. […] Na ver<strong>da</strong>de, caminhou tão silenciosamente<br />

que, quando começamos a percebê -lo, denunciado pelos instrumentos de pedra<br />

2 Nat. Geogr. Soc., Washington, out. 1971.

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