29.03.2013 Views

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

846 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

do poder, enquanto superestrutura, não se inclui em nenhuma definição de<br />

modo de produção, embora seja um indício <strong>da</strong> constituição de classes. Essa<br />

estrutura, na <strong>África</strong>, não apresenta os traços do “despotismo oriental” descrito<br />

por Marx 15 . Sem negar que tenham existido casos de autocracia sanguinária,<br />

a autori<strong>da</strong>de estatal na <strong>África</strong> negra quase sempre assume a forma de uma<br />

monarquia modera<strong>da</strong>, limita<strong>da</strong> por corpos constituídos e costumes – ver<strong>da</strong>deiras<br />

constituições não escritas – instituições em geral her<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>da</strong> organização ou<br />

<strong>da</strong> estratificação social anteriores. Mesmo no caso de impérios prestigiosos e<br />

eficientes como o Mali, descritos com admiração por Ibn Battuta no século XIV,<br />

que se estendiam por vastos territórios, a descentralização, por escolha delibera<strong>da</strong>,<br />

deixava as comuni<strong>da</strong>des de base funcionarem dentro de um ver<strong>da</strong>deiro sistema<br />

de autonomia. De qualquer modo, sendo a escrita em geral pouco utiliza<strong>da</strong> e<br />

tendo as técnicas e os meios de deslocamento permanecido pouco desenvolvidos,<br />

o poder <strong>da</strong>s metrópoles era sempre diminuído pela distância. Essa distância<br />

tornava igualmente muito concreta a permanente ameaça de os subordinados<br />

se livrarem de uma eventual autocracia por meio <strong>da</strong> fuga.<br />

Por outro lado, na <strong>África</strong> a produção excedente <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des de base<br />

parece ter sido modesta, exceto quando havia um monopólio estatal sobre<br />

gêneros preciosos, como o ouro em Gana ou Ashanti, o marfim, o sal, etc. No<br />

entanto, mesmo nesse caso, não devemos esquecer a contraparti<strong>da</strong> de serviços<br />

prestados pela chefia (segurança, justiça, mercados, etc.), nem minimizar o<br />

fato de que uma boa parte <strong>da</strong>s contribuições e ren<strong>da</strong>s era redistribuí<strong>da</strong>, por<br />

ocasião <strong>da</strong>s festas costumeiras, conforme o código de honra em vigor para<br />

os que deviam viver nobremente 16 . Isso explica a suntuosa generosi<strong>da</strong>de de<br />

Kankou Mussa, o Magnífico, imperador do Mali, na época de sua faustosa<br />

peregrinação em 1324.<br />

Quanto ao modo de produção escravista, existia ele na <strong>África</strong>? Também nesse<br />

caso, somos obrigados a responder negativamente. Em quase to<strong>da</strong>s as socie<strong>da</strong>des<br />

ao sul do Saara, a escravidão desempenhou um papel apenas marginal. Os<br />

15 “Se entendemos por despotismo uma autori<strong>da</strong>de absoluta e arbitrária, não podemos rejeitar a ideia de<br />

um despotismo africano.” J. SURET -CANALE, op. cit., p. 125. “Não acreditamos que haja razões para<br />

encontrar, na organização dos Estados africanos, a reprodução de um modelo tomado de empréstimo à<br />

Ásia; no máximo, podemos destacar algumas semelhanças superficiais”. Op. cit., p. 122.<br />

16 J. MAQUET, após ter observado que para G. BALANDIER “afinal, o preço que os detentores do<br />

poder político deviam pagar nunca é integralmente recompensado”, acredita, por sua vez, que os serviços<br />

públicos dos chefes “exigem um poder coercitivo apenas nas socie<strong>da</strong>des muito vastas, heterogêneas e<br />

urbanas. Em qualquer outra parte, a estrutura de linhagens e suas sanções não impostas pela força são<br />

suficientes…”. Portanto, conclui: “Excetuando a redistribuição, era sem contraparti<strong>da</strong> econômica que o<br />

excedente de uma socie<strong>da</strong>de tradicional era apropria<strong>da</strong> pelos governantes”. J. MAQUET, 1970, p. 99 -101.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!