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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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<strong>História</strong> e linguística<br />

Como a língua é o lugar de cristalização de todos os instrumentos mentais ou<br />

materiais construídos pelas gerações sucessivas, pode -se dizer que a experiência<br />

histórica de um povo está deposita<strong>da</strong> em cama<strong>da</strong>s consecutivas no próprio<br />

tecido <strong>da</strong> língua.<br />

Suporte do documento e do pensamento histórico<br />

A importância <strong>da</strong> tradição oral na história <strong>da</strong> <strong>África</strong> é hoje aceita por todos.<br />

Chega -se mesmo a solicitar a presença de griots tradicionalistas nos congressos.<br />

Há sugestões para que lhes sejam cria<strong>da</strong>s cadeiras nas universi<strong>da</strong>des e mesmo<br />

para que eles se incumbam <strong>da</strong> pesquisa e do ensino de história.<br />

De modo geral, a primazia <strong>da</strong> fala sobre a escrita é ain<strong>da</strong> hoje uma reali<strong>da</strong>de<br />

em culturas tradicionais com predominância rural, tanto na <strong>África</strong> como em<br />

outros lugares.<br />

A orali<strong>da</strong>de como meio de elaborar e fixar os produtos do pensamento<br />

tem suas próprias técnicas. Embora as formas de pensamento escritas ou orais<br />

abranjam a mesma área, os meios e os métodos de sua concepção e transmissão<br />

nem sempre são os mesmos 42 .<br />

Devemos notar simplesmente que o pensamento escrito, ou seja, a literatura<br />

no sentido etimológico, ao se fixar tende, com mais facili<strong>da</strong>de, a cristalizar -se<br />

sob uma forma permanente. Desse modo, rompe com uma tradição verbal que<br />

oferece um campo mais vasto à invenção e à criação de mitos. No nível <strong>da</strong><br />

linguagem, a palavra fala<strong>da</strong> tem também um potencial maior de dialetização<br />

porque há menos controle de seu desenvolvimento. Uma língua de expressão<br />

predominantemente oral permanece mais popular, mais sensível às distorções<br />

impostas pela prática no plano de sua estrutura, dos sons que utiliza e até mesmo<br />

<strong>da</strong>s formas que toma de empréstimo.<br />

Uma língua literária, ao contrário, é mais trabalha<strong>da</strong> no sentido <strong>da</strong><br />

unificação. Aliás, apresenta maior dimensão visual e integra, como elementos<br />

expressivos, <strong>da</strong>dos gráficos que lhe conferem certa especifici<strong>da</strong>de: ortografia<br />

em ruptura com a fonologia, pontuação, etc. Já a linguagem oral utiliza mais<br />

o elemento sonoro. Transmite significação através <strong>da</strong> cadência, dos ritmos, <strong>da</strong>s<br />

assonâncias ou dissonâncias, <strong>da</strong>s evidências do discurso. A importância do papel<br />

desempenhado pela memória, para suprir a ausência de um suporte gráfico,<br />

também afeta o caráter <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de em suas formas de expressão. Chega mesmo<br />

a ser imprescindível, com as técnicas de memorização, uma ciência específica<br />

42 Cf. DIAGNE, P. 1972.<br />

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