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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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Os métodos interdisciplinares utilizados nesta obra<br />

ciência <strong>da</strong> linguagem. To<strong>da</strong> língua é não só uma criação mental como também<br />

um fenômeno social. Seu vocabulário, por exemplo, é o reflexo <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong>des<br />

forja<strong>da</strong>s pela história de ca<strong>da</strong> povo. É, por outro lado, a língua, a palavra, que<br />

instila um sistema de conceitos e normas de comportamento na mentali<strong>da</strong>de<br />

e nas motivações dos povos. Certos conceitos de uma língua são difíceis<br />

de expressar de forma idêntica em outra, relaciona<strong>da</strong> a um contexto global<br />

diferente. É o caso do conceito de sanakuya (em mande) e rakire (em more),<br />

aproxima<strong>da</strong>mente traduzido por “parentesco de brincadeira” e que desempenha<br />

um papel histórico de grande importância na região su<strong>da</strong>no -saheliana. É o<br />

caso, também, do conceito de dyatigui (em mande), que está longe de coincidir<br />

com a simples noção de “hospedeiro”; ou do conceito de tengsoba, traduzido<br />

literalmente por “chefe <strong>da</strong> terra”, embora sem uma exata correspondência<br />

semântica. A crítica linguística é constantemente solicita<strong>da</strong> pelo historiador, de<br />

par com outras fontes. A cronologia e a origem <strong>da</strong>s ruínas circulares <strong>da</strong> região de<br />

Lobi, por exemplo, são o resultado de um conjunto de provas que se eliminam<br />

e se reforçam mutuamente: rejeição <strong>da</strong> hipótese de uma origem portuguesa<br />

basea<strong>da</strong> num texto de Barros, contradita pelo traçado <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> supostamente<br />

utiliza<strong>da</strong> e pelo exame do revestimento de reboco, cujo estado de conservação<br />

não justifica um horizonte temporal muito remoto; denominação wilé e birifor<br />

dessas ruínas – kol na wo – significando “estábulos <strong>da</strong>s vacas dos estrangeiros”;<br />

identificação desses estrangeiros na pessoa dos Kulango, através do estilo <strong>da</strong>s<br />

cerâmicas encontra<strong>da</strong>s nas ruínas; por fim, estimativa cronológica liga<strong>da</strong> às<br />

tradições de migração dos povos <strong>da</strong> região. Nesse caso específico, percebe -se<br />

concretamente o papel decisivo <strong>da</strong> linguística na tentativa de interpretação de<br />

um determinado acontecimento histórico. 7<br />

Mas seria uma aberração grosseira assimilar o fenômeno linguístico, que<br />

é cultural, ao tribalismo ou ao fato biológico <strong>da</strong> raça. A língua dos cavaleiros<br />

Dagomba, invasores <strong>da</strong>s terras <strong>da</strong> bacia do Volta no século XIV, talvez tenha<br />

caído em desuso, sendo substituí<strong>da</strong> pela língua <strong>da</strong>s mulheres Kusase que eles<br />

desposaram no local e que se tornaram mães de seus filhos. Este é um exemplo<br />

de contaminação linguística que teria ocorrido – como por vezes acontece – às<br />

custas dos que detinham o poder político. A etno -história, reduzi<strong>da</strong> ao presente<br />

etnográfico quase inerte dos funcionalistas, também não é uma ver<strong>da</strong>deira história<br />

e não poderia desempenhar papel positivo nesta conjugação <strong>da</strong>s fontes, em que<br />

ca<strong>da</strong> uma constitui não um elemento estático mas uma variável transporta<strong>da</strong><br />

7 Cf. PARENKO, P. e HERBERT, R. P. J. 1962.<br />

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