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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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42 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

gueze. To<strong>da</strong> a <strong>África</strong> islâmica – a <strong>África</strong> do Norte, o Saara, a franja setentrional<br />

<strong>da</strong> região su<strong>da</strong>nesa, do Senegal ao Mar Vermelho, e as ci<strong>da</strong>des costeiras <strong>da</strong> costa<br />

oriental até o estreito de Moçambique – havia utilizado a escrita árabe. Antes<br />

mesmo <strong>da</strong> época colonial, o árabe havia penetrado aqui e ali na floresta tropical<br />

através dos mercadores diula, enquanto o português, o inglês e o francês escritos<br />

serviam normalmente como línguas comerciais ao longo <strong>da</strong>s costas ocidentais.<br />

Apesar disso, o chauvinismo cultural, acompanhado pela ignorância, conduzia as<br />

autori<strong>da</strong>des ocidentais a estabelecerem no limite do deserto a demarcação entre<br />

a alfabetização e o analfabetismo. Reforçava -se assim a desastrosa tendência em<br />

separar a história <strong>da</strong> <strong>África</strong> do Norte <strong>da</strong> história do conjunto do continente.<br />

Entretanto, a exclusão dos “não civilizados” do reino <strong>da</strong> história era apenas uma<br />

<strong>da</strong>s facetas de um elemento bem mais importante <strong>da</strong> tradição histórica ocidental.<br />

As próprias massas ocidentais eram atingi<strong>da</strong>s por esta exclusão, sem dúvi<strong>da</strong> não<br />

em vista de manifestas prevenções de classe, mas simplesmente em consequência<br />

do caráter didático <strong>da</strong> história, uma vez que a apologia dos homens célebres era<br />

capaz de propor modelos a serem imitados. No entanto, não é por acaso que<br />

esses modelos eram em geral escolhidos entre os ricos e poderosos, enquanto que<br />

a história se tornava o relato dos fatos e gestos de uma pequena elite. Os tipos<br />

de comportamento que afetavam o conjunto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de eram minimizados ou<br />

ignorados. A história <strong>da</strong>s ideias não era a história do que as pessoas pensavam:<br />

era a história dos “grandes desígnios”. A história econômica não era a história <strong>da</strong><br />

economia ou dos comportamentos econômicos: era a história de determina<strong>da</strong>s<br />

políticas econômicas governamentais importantes, de certas firmas priva<strong>da</strong>s,<br />

de determina<strong>da</strong>s inovações na vi<strong>da</strong> econômica. Se os historiadores europeus se<br />

desinteressaram tão completamente por um amplo setor de sua própria socie<strong>da</strong>de,<br />

como poderiam interessar -se por outras socie<strong>da</strong>des ou por outras culturas?<br />

Até aqui, as duas tendências revolucionárias que se manifestam no interior dos<br />

recentes estudos históricos seguiram cursos estreitamente paralelos simplesmente<br />

porque a história eurocêntrica e a história <strong>da</strong>s elites se alimentavam nas mesmas<br />

fontes. Lentamente, porém, irá estabelecer -se a aliança potencial entre os que<br />

trabalham para ampliar o campo de estudo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de ocidental e os que se<br />

dedicam a <strong>da</strong>r um impulso maior às pesquisas históricas para além do mundo<br />

ocidental. No início, os dois grupos avançaram guar<strong>da</strong>ndo certa distância um<br />

do outro. A principal preocupação dos historiadores <strong>da</strong> <strong>África</strong> era desmentir a<br />

afirmação segundo a qual a <strong>África</strong> não possuía passado ou só possuía um passado<br />

sem interesse. No primeiro caso, o mais simples era, para usar uma expressão<br />

popular, pegar o touro a unha. Aos que pretendiam que o continente africano não<br />

possuía nenhum passado, os especialistas <strong>da</strong> <strong>África</strong> podiam opor a existência de

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