29.03.2013 Views

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>História</strong> e linguística<br />

de línguas como o wolof e o haussa ou <strong>da</strong> tradição gráfica <strong>da</strong>omeana que <strong>da</strong>s<br />

estruturas linguísticas semíticas ou indo -europeias às quais são anexa<strong>da</strong>s sem<br />

critério.<br />

A antiga língua egípcia, o haussa, as línguas dos pastores ruandenses, dos<br />

abissínios, dos Peul e dos núbios são naturaliza<strong>da</strong>s semitas ou indo -europeias<br />

sobre bases de evidente fragili<strong>da</strong>de ou a partir de uma metodologia e de uma<br />

escolha de critérios muito pouco convincentes.<br />

Os Peul talvez sejam mestiços, do mesmo modo que os Baluba, os Susu, os<br />

Songhai e muitos povos negros que mantiveram, em seu habitat antigo ou atual,<br />

contatos com populações brancas. Essa hipótese de mestiçagem, contudo, é hoje<br />

bastante questiona<strong>da</strong> a partir de descobertas recentes a respeito dos processos<br />

de mutação <strong>da</strong> pigmentação.<br />

Por sua fonologia, seu léxico e sua estrutura, o fulfulde apresenta semelhanças<br />

com o seereer, mais do que com qualquer outra língua conheci<strong>da</strong>, a tal ponto que<br />

os próprios Seereer e Peul sugerem haver entre eles um parentesco não apenas<br />

linguístico mas também étnico. Isso não impediu pesquisadores como F. Müller,<br />

W. Jeffreys, Meinhof, Delafosse e Westermann de tentar estabelecer uma origem<br />

branca para os Peul, afirmando que o fulfulde é protocamítico 38 . W. Taylor chega<br />

mesmo a escrever: “Pela riqueza de seu vocabulário, a sonori<strong>da</strong>de de sua dicção<br />

e as delica<strong>da</strong>s nuances de significação que é capaz de expressar, o peul não pode<br />

pertencer à família negra su<strong>da</strong>nesa”. To<strong>da</strong>s essas observações nos mostram até<br />

que ponto está generaliza<strong>da</strong> a confusão entre categorias tão diferentes como a<br />

língua, o modo de vi<strong>da</strong> e a “raça”, sem contar o conceito de etnia, que é utilizado,<br />

conforme o caso, com referência a uma ou várias dessas categorias.<br />

Como nota J. H. Greenberg, a relação simplista estabeleci<strong>da</strong> entre gado<br />

grosso, conquista e língua camítica se mostra falsa em todo o continente africano.<br />

Escreve ele:<br />

“No Sudão ocidental, é uma ironia constatar que os agricultores de línguas camíticas<br />

estão submetidos à autori<strong>da</strong>de dos pastores peul que falam uma língua su<strong>da</strong>nesa<br />

ocidental (ou níger -congo). Teria sido outra ironia, se seguíssemos os clichês<br />

estabelecidos, constatar a antigui<strong>da</strong>de e a permanência <strong>da</strong>s hegemonias mandinga<br />

ou wolof, de família linguística su<strong>da</strong>nesa, sobre povos tão rapi<strong>da</strong>mente assimilados<br />

ao ‘camítico’ como os assim chamados Peul pré -camíticos ou os Berberes”.<br />

Nenhuma <strong>da</strong>s classificações estabeleci<strong>da</strong>s no plano continental ou regional<br />

oferece, até agora, garantias científicas inquestionáveis. O etnocentrismo tem<br />

38 GREENBERG, J. H. Op. cit.<br />

263

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!