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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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146 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

relativas à tradição é de fun<strong>da</strong>mental importância. Dizemos representação em<br />

lugar de reprodução, porque na maioria dos casos está em jogo um elemento<br />

estético. Se os critérios estéticos prevalecerem sobre a fideli<strong>da</strong>de <strong>da</strong> reprodução,<br />

ocorrerá uma forte distorção estética, refletindo o gosto do público e a arte <strong>da</strong><br />

pessoa que transmite a tradição. Mesmo em outros casos, encontramos arranjos<br />

de textos que chegam a vestir as tradições de conteúdo histórico específico com o<br />

uniforme dos padrões artísticos correntes. Por exemplo, nas narrativas, uma série<br />

de episódios que levam a um clímax formam a trama principal, enquanto outros<br />

constituem repetições paralelas sofistica<strong>da</strong>s e outros, ain<strong>da</strong>, representam apenas<br />

transições de uma etapa <strong>da</strong> narrativa para outra. Como regra geral, pode -se admitir<br />

que, quanto mais uma narrativa se conforma ao modelo -padrão de excelência e<br />

quanto mais é admira<strong>da</strong> pelo público, mais é distorci<strong>da</strong>. Numa série de variantes,<br />

pode -se, às vezes, discernir a variante correta pelo fato de ir contra esses padrões,<br />

assim como uma variante que contradiz a função social de uma tradição tem mais<br />

probabili<strong>da</strong>de de ser ver<strong>da</strong>deira que as outras. Não devemos esquecer, entretanto,<br />

que nem todos os artistas <strong>da</strong> palavra são excelentes. Há os de pouco talento, e suas<br />

variantes serão sempre sofríveis. Mas a atitude do público, como o cenário de uma<br />

representação, não é exclusivamente um fato artístico. É acima de tudo um fato<br />

social, e isso nos obriga a considerar a tradição em seu meio social.<br />

Contexto social <strong>da</strong> tradição<br />

Tudo que uma socie<strong>da</strong>de considera importante para o perfeito funcionamento<br />

de suas instituições, para uma correta compreensão dos vários status sociais<br />

e seus respectivos papéis, para os direitos e obrigações de ca<strong>da</strong> um, tudo é<br />

cui<strong>da</strong>dosamente transmitido. Numa socie<strong>da</strong>de oral isso é feito pela tradição,<br />

enquanto numa socie<strong>da</strong>de que adota a escrita, somente as memórias menos<br />

importantes são deixa<strong>da</strong>s à tradição. É esse fato que levou durante muito tempo<br />

os historiadores, que vinham de socie<strong>da</strong>des letra<strong>da</strong>s, a acreditar erroneamente<br />

que as tradições eram um tipo de conto de fa<strong>da</strong>s, canção de ninar ou brincadeira<br />

de criança.<br />

To<strong>da</strong> instituição social, e também todo grupo social, tem uma identi<strong>da</strong>de<br />

própria que traz consigo, um passado inscrito nas representações coletivas de<br />

uma tradição, que o explica e o justifica. Por isso, to<strong>da</strong> tradição terá sua “superfície<br />

social”, utilizando a expressão emprega<strong>da</strong> por H. Moniot. Sem superfície social, a<br />

tradição não seria mais transmiti<strong>da</strong> e, sem função, perderia a razão de existência<br />

e seria abandona<strong>da</strong> pela instituição que a sustenta.

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