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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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140 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

preservação <strong>da</strong> sabedoria dos ancestrais, venera<strong>da</strong> no que poderíamos chamar<br />

elocuções -chave, isto é, a tradição oral. A tradição pode ser defini<strong>da</strong>, de fato,<br />

como um testemunho transmitido verbalmente de uma geração para outra.<br />

Quase em to<strong>da</strong> parte, a palavra tem um poder misterioso, pois palavras<br />

criam coisas. Isso, pelo menos, é o que prevalece na maioria <strong>da</strong>s civilizações<br />

africanas. Os Dogon sem dúvi<strong>da</strong> expressaram esse nominalismo <strong>da</strong> forma<br />

mais evidente; nos rituais constatamos em to<strong>da</strong> parte que o nome é a coisa,<br />

e que “dizer” é “fazer”.<br />

A orali<strong>da</strong>de é uma atitude diante <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e não a ausência de uma<br />

habili<strong>da</strong>de. As tradições desconcertam o historiador contemporâneo – imerso<br />

em tão grande número de evidências escritas, vendo -se obrigado, por isso, a<br />

desenvolver técnicas de leitura rápi<strong>da</strong> – pelo simples fato de bastar à compreensão<br />

a repetição dos mesmos <strong>da</strong>dos em diversas mensagens. As tradições requerem um<br />

retorno contínuo à fonte. Fu Kiau, do Zaire, diz, com razão que é ingenui<strong>da</strong>de ler<br />

um texto oral uma ou duas vezes e supor que já o compreendemos. Ele deve ser<br />

escutado, decorado, digerido internamente, como um poema, e cui<strong>da</strong>dosamente<br />

examinado para que se possam apreender seus muitos significados – ao menos<br />

no caso de se tratar de uma elocução importante. O historiador deve, portanto,<br />

aprender a trabalhar mais lentamente, refletir, para embrenhar -se numa<br />

representação coletiva, já que o corpus <strong>da</strong> tradição é a memória coletiva de uma<br />

socie<strong>da</strong>de que se explica a si mesma. Muitos estudiosos africanos, como Amadou<br />

Hampâté -Ba ou Boubou Hama muito eloquentemente têm expressado esse<br />

mesmo -raciocínio. O historiador deve iniciar -se, primeiramente, nos modos de<br />

pensar <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de oral, antes de interpretar suas tradições.<br />

A natureza <strong>da</strong> tradição oral<br />

A tradição oral foi defini<strong>da</strong> como um testemunho transmitido oralmente de uma<br />

geração a outra. Suas características particulares são o verbalismo e sua maneira<br />

de transmissão, na qual difere <strong>da</strong>s fontes escritas. Devido à sua complexi<strong>da</strong>de,<br />

não é fácil encontrar uma definição para tradição oral que dê conta de todos<br />

os seus aspectos. Um documento escrito é um objeto: um manuscrito. Mas um<br />

documento oral pode ser definido de diversas maneiras, pois um indivíduo pode<br />

interromper seu testemunho, corrigir -se, recomeçar, etc. Uma definição um<br />

pouco arbitrária de um testemunho poderia, portanto, ser: to<strong>da</strong>s as declarações<br />

feitas por uma pessoa sobre uma mesma sequência de acontecimentos passados,<br />

contanto que a pessoa não tenha adquirido novas informações entre as diversas

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