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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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746 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

Outro procedimento que também se utiliza às vezes é a <strong>da</strong>tação relativa<br />

a partir de traçados superpostos, ou seja, traços que recobrem outros traços<br />

e que, portanto, são mais recentes. Contudo, nem sempre se encontram tais<br />

superposições, e, além disso, a deterioração <strong>da</strong>s rochas e a alteração dos pigmentos<br />

frequentemente tornam a interpretação arrisca<strong>da</strong> e contraditória 3 .<br />

Resta, é claro, o método do C14, que é o ideal mas cuja aplicação é muito<br />

rara, devido às razões já menciona<strong>da</strong>s. Além do mais, impõem -se numerosas<br />

precauções: o fragmento de pintura não esteve em contato com matérias orgânicas<br />

recentes? O fragmento de carvão não provém de um incêndio provocado por um<br />

raio? Apesar de tudo, as <strong>da</strong>tas obti<strong>da</strong>s por esse método multiplicam -se pouco<br />

a pouco. Em Meniet, por exemplo (Mouydir), no Saara central, um carvão<br />

recolhido numa cama<strong>da</strong> profun<strong>da</strong> forneceu a <strong>da</strong>ta de 5410 +300 B.P.<br />

A política também pode se imiscuir na cronologia. Os observadores bôeres, por<br />

exemplo, estão muito pouco dispostos a aceitar a grande antigui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> civilização<br />

artística dos autóctones africanos. Tendem, pois, a reduzir -lhe o desenvolvimento,<br />

seja por omissão, seja aplicando mecanicamente métodos de avaliação utilizados<br />

para os rupestres europeus. Nessas condições, as representações do Drakensberg<br />

são situa<strong>da</strong>s por eles como posteriores ao século XVII, isto é, muito tempo depois<br />

<strong>da</strong> chega<strong>da</strong> dos Bantu. Ora, sem contar que a arte rupestre sul -africana representa,<br />

por vezes, animais que <strong>da</strong>tam de épocas muito anteriores nessa região, parece<br />

pouco provável que os San tenham “esperado” os conflitos com os Bantu para<br />

desenvolver uma forma de arte para cuja prática seria necessário um mínimo de<br />

estabili<strong>da</strong>de. Convém, portanto, reexaminar a questão dos períodos.<br />

Períodos<br />

Quando se deseja classificar os achados <strong>da</strong> arte pré -histórica em sequências<br />

temporais inteligíveis, a primeira abor<strong>da</strong>gem deve ser geológica e ecológica,<br />

já que era o meio – mais determinante do que hoje para os povos então<br />

mais desprovidos tecnicamente – que estabelecia e impunha o quadro geral<br />

<strong>da</strong> existência. O biótopo, particularmente, condicionava a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s espécies<br />

representa<strong>da</strong>s, inclusive a do próprio homem, suas técnicas e seus estilos. Se<br />

3 J. D. LAJOUX aplicou as mais recentes técnicas fotográficas nas pinturas de Inahouanrhat (Tassili).<br />

Personagens vermelhas pareciam ter sido pinta<strong>da</strong>s sobre a figura de uma mulher mascara<strong>da</strong> de cor<br />

marrom -esverdea<strong>da</strong>, mas os ornamentos brancos <strong>da</strong> mulher foram acrescentados mais tarde sobre as<br />

figuras vermelhas. É comum entre os aborígines <strong>da</strong> Austrália a prática de repintar as representações<br />

rupestres (wondjina), a fim de revigorá -las; essa prática é acompanha<strong>da</strong> de narrativas míticas para invocar<br />

a chuva. L. Frobenius observou o mesmo costume entre os jovens senegaleses.

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