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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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Os métodos interdisciplinares utilizados nesta obra<br />

dos reis. Nessas condições, a estética é intimamente governa<strong>da</strong> pela ética e, ao<br />

mesmo tempo, servi<strong>da</strong> por ela. Por outro lado, a arte muitas vezes apresenta -se<br />

como um conservatório, um museu de antropologia cultural e mesmo física<br />

devido aos ritos, escarificações, penteados, costumes e cenários que reproduz.<br />

Mas a compreensão <strong>da</strong> arte em si, enquanto técnica inspira<strong>da</strong>, não pode<br />

ocorrer fora <strong>da</strong> história. A estilística é frequentemente explica<strong>da</strong> pela organização<br />

social. No Benin, por exemplo, os mesmos artistas (egbesanewa) esculpem a<br />

madeira e o marfim, enquanto outros trabalham a terracota e o bronze. É<br />

evidente que a passagem de um material para outro explica em grande parte<br />

a feitura dos objetos em marfim ou bronze assim como a forma e a decoração<br />

<strong>da</strong>s cerâmicas pré -históricas só se explicavam por sua, invenção a partir de<br />

cestos de palha trança<strong>da</strong>. Que dizer então <strong>da</strong>s máscaras, em cuja confecção os<br />

africanos manifestaram uma imaginação sem limites? As máscaras bobo, por<br />

exemplo, sobretudo as três principais – kele (máscara de antepassado), kimi<br />

(cabeça de marabu) e tiebele (crânio de búfalo) –, são ver<strong>da</strong>deiras personali<strong>da</strong>des<br />

reconheci<strong>da</strong>s na aldeia, que, além de representarem testemunhos <strong>da</strong> história, dela<br />

participam ativamente. 4 Que dizer dos cauris – já mencionados por Ibn Battuta<br />

em 1352, na corte do Mali –, cujo fim primeiro era monetário, mas que também<br />

serviam de adorno quando artisticamente dispostos, tendo, ain<strong>da</strong>, um valor<br />

especial nos compromissos sociais e cerimônias religiosas? A arte, nesse caso,<br />

encontra -se imersa num complexo que lhe dá significado e que ela, por sua vez,<br />

vivifica. Empreender a história de certas socie<strong>da</strong>des africanas sem compreender<br />

a linguagem múltipla dos cauris e <strong>da</strong>s máscaras é como entrar numa sala de<br />

arquivo sendo analfabeto: a “leitura” de sua evolução seria necessariamente<br />

trunca<strong>da</strong>.<br />

O mesmo ocorre com a tradição oral, assunto amplamente discutido, aliás. A<br />

tradição oral é a história vivi<strong>da</strong>, transporta<strong>da</strong> pela memória coletiva com to<strong>da</strong>s as<br />

suas contingências e singeleza mas também com to<strong>da</strong> a sua força e vigor. Existe<br />

na tradição, como na língua de Esopo, o melhor e o pior. Por certo a tradição oral<br />

frequentemente ignora fatores econômicos e sociais, mas ain<strong>da</strong> assim se presta<br />

a detectar outras fontes, em geral mais pertinentes, como os manuscritos e os<br />

4 “A grande máscara dos oráculos ou ‘espírito de Deus’ é o Go Gê, guar<strong>da</strong>do por um sacerdote supremo<br />

chamado Gonola. A grande máscara tem uma participação importante no sistema político dessas<br />

socie<strong>da</strong>des, extensão prática do culto dos antepassados, funcionando muito secretamente à noite.<br />

Por ocasião <strong>da</strong>s sessões do Poro, a grande máscara é previamente leva<strong>da</strong> ao bosque sagrado, coberta<br />

por um pano branco. O Gonola atua como chefe e sacerdote, dispensador <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de insufla<strong>da</strong> pelos<br />

antepassados. O Go Gê é também um legislador, pois suas decisões são apregoa<strong>da</strong>s na aldeia e têm força<br />

de Lei”. HOUIS, M. In: Études guinéennes, 1951; HARLEY, G. W. 1950.<br />

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