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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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848 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

Finalmente, devemos considerar as estruturas socioeconômicas como<br />

o sistema familiar matrilinear, que caracterizou fortemente as socie<strong>da</strong>des<br />

africanas, pelo menos em sua origem, antes que influências posteriores como<br />

o islamismo, a civilização ocidental, etc., impusessem pouco a pouco o sistema<br />

patrilinear. Essa estrutura social, tão importante para definir o eminente papel<br />

<strong>da</strong> mulher na comuni<strong>da</strong>de, comportava igualmente consequências econômicas,<br />

políticas e espirituais, uma vez que ela desempenhava um papel marcante tanto<br />

na herança de bens materiais como dos direitos à sucessão real, a exemplo do<br />

que ocorria em Gana. O parentesco uterino parece ter saído <strong>da</strong>s profundezas<br />

<strong>da</strong> <strong>Pré</strong> -<strong>História</strong> africana, do momento em que a sedentarização do Neolítico<br />

tinha exaltado as funções domésticas <strong>da</strong> mulher, a ponto de torná -las o<br />

elemento central do corpo social. Numerosas práticas têm origem nesse fato,<br />

tais como o “parentesco de brincadeira”, o casamento com a irmã, o dote pago<br />

aos pais <strong>da</strong> futura esposa, etc.<br />

Nessas condições, como se pode descrever a linha de evolução característica <strong>da</strong>s<br />

socie<strong>da</strong>des africanas mol<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela <strong>Pré</strong> -<strong>História</strong>? Deve -se observar inicialmente<br />

que durante esse período a <strong>África</strong> desempenhou nas relações intercontinentais o<br />

papel de pólo e foco central de invenção e divulgação <strong>da</strong>s técnicas. Mas essa alta<br />

função bem depressa se transformou em posição subordina<strong>da</strong> e periférica, em<br />

virtude dos fatores internos antagônicos acima mencionados, e igualmente em<br />

consequência do usufruto de bens e serviços africanos sem compensação suficiente<br />

em favor desse continente, por exemplo, sob a forma de uma transferência<br />

equivalente de capitais e de técnicas. Essa exploração plurimilenar <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

teve três períodos culminantes. Primeiro a Antigui<strong>da</strong>de, quando, após o declínio<br />

do Egito, o vale do Nilo e as províncias romanas do resto <strong>da</strong> <strong>África</strong> do norte<br />

sofrem intensa exploração e tornam -se o celeiro de Roma. Além dos gêneros<br />

alimentícios, o Império Romano retirou <strong>da</strong> <strong>África</strong> uma quanti<strong>da</strong>de enorme de<br />

animais selvagens, de escravos e de gladiadores para o exército, os palácios, os<br />

latifúndios e os jogos sanguinários do circo. No século XVI, começa a sinistra<br />

era do tráfico de negros. Finalmente, no século XIX, assistimos à consagração<br />

<strong>da</strong> dependência pela ocupação territorial e pela colonização. A acumulação de<br />

capital na Europa e o progresso <strong>da</strong> revolução industrial, fenômenos simultâneos<br />

e complementares, seriam inconcebíveis sem a contribuição força<strong>da</strong> <strong>da</strong> Ásia, <strong>da</strong>s<br />

Américas e sobretudo <strong>da</strong> <strong>África</strong>.<br />

Paralelamente, mesmo durante os séculos de desenvolvimento interno, em<br />

que a rapina externa não era tão acentua<strong>da</strong> (<strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong>de ao século XVI),<br />

numerosas contradições no interior do próprio sistema africano constituíam<br />

obstáculos estruturais endógenos à passagem, por pressão interna, para estruturas

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