29.03.2013 Views

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

816 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

que este se prolongou até -3066, o que deixa apenas três quartos de século para<br />

a transição do fim do <strong>Pré</strong> -Dinástico Médio ao início <strong>da</strong> <strong>História</strong>. Ao que tudo<br />

indica, esse início deveria ser deslocado para uns duzentos anos mais tarde;<br />

mas mesmo localizando -o por volta de -2800 38 , restam apenas pouco mais de<br />

dois séculos para uma fase em que se completou o processo de aproveitamento<br />

do vale inferior do Nilo e estabeleceu -se um sistema social dirigido por uma<br />

monarquia de direito divino.<br />

Essa fase encontra -se tão próxima <strong>da</strong>quela que testemunha o aparecimento<br />

<strong>da</strong> escrita que tentou -se extrapolar as informações forneci<strong>da</strong>s pelos textos<br />

escritos para o que a arqueologia nos revela 39 . Os textos deixam entrever que, no<br />

início do <strong>Pré</strong> -Dinástico Recente e talvez desde o fim do <strong>Pré</strong> -Dinástico Médio, a<br />

ci<strong>da</strong>de mais poderosa do sul era Ombos (Noubet em egípcio), perto de Naga<strong>da</strong>,<br />

portanto exatamente no centro <strong>da</strong> cultura amratiense. O deus <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de é Seth,<br />

deus animal sobre cuja natureza ain<strong>da</strong> se discute; tem sido identificado como um<br />

tamanduá, uma espécie de porco, uma girafa… um animal mítico ou há muito<br />

desaparecido <strong>da</strong> fauna egípcia. Os textos nos informam que esse deus meridional<br />

entra em luta com um deus -falcão, Hórus, adorado na ci<strong>da</strong>de de Behedet, que<br />

provavelmente estava localiza<strong>da</strong> no Delta, isto é, dentro dos domínios <strong>da</strong> cultura<br />

gerzeense. Portanto, no fim do <strong>Pré</strong> -Dinástico Médio, o Egito estaria dividido<br />

em duas estruturas sociais, uma ao norte, domina<strong>da</strong> por Hórus de Behedet, e<br />

outra ao sul, dirigi<strong>da</strong> por Seth de Ombos. Também nesse caso, infelizmente,<br />

as fontes de que dispomos não permitem determinar com precisão a natureza<br />

dessas estruturas sociais. Pode -se, no máximo, ter uma ideia <strong>da</strong> importância do<br />

chefe de grupo, importância que reside em seus poderes mágicos e religiosos, que<br />

se traduzirá, na época histórica, no caráter divino do representante <strong>da</strong> realeza 40 .<br />

Poder -se -ia, talvez, admitir a hipótese de o chefe dispor de poderes praticamente<br />

ilimitados em relação aos indivíduos <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de, sendo que esta, por sua vez,<br />

podia, quando a ocasião se apresentasse, matar o chefe cujos poderes mágicos<br />

estivessem em declínio (cf. A. Moret, La mise à mort du dieu en Egypte).<br />

Interpretando os textos, admite -se que a luta entre esses dois grupos teria<br />

terminado, numa primeira etapa, com uma vitória do norte sobre o sul, e que após<br />

essa vitória teria sido criado um reino unificado, tendo por núcleo Heliópolis 41 ,<br />

perto do Cairo, a uns 60 km ao norte do sítio de Gerzeh. Traduzi<strong>da</strong> em termos<br />

38 A. SCHARFF, 1950, p. 191.<br />

39 A obra básica continua sendo o brilhante ensaio de K. SETHE, 1930.<br />

40 Cf. G. POSENER, 1960.<br />

41 K. SETHE, op. cit.; hipótese refuta<strong>da</strong> por H. KEES, 1961, p. 43.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!