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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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200 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

Se a música é, em geral, a grande especiali<strong>da</strong>de dos dieli, existe também uma<br />

música ritual, toca<strong>da</strong> por iniciados, que acompanha as cerimônias ou as <strong>da</strong>nças<br />

rituais. Os instrumentos dessa música sagra<strong>da</strong> são, portanto, ver<strong>da</strong>deiros objetos<br />

de culto, que tornam possível a comunicação com as forças invisíveis. Por serem<br />

instrumentos de cor<strong>da</strong>, sopro ou percussão, encontram -se em conexão com os<br />

elementos: terra, ar e água.<br />

A música própria para “encantar” os espíritos do fogo é apanágio <strong>da</strong> associação<br />

dos comedores de fogo, que são chamados de Kursi ‑kolonin ou Donnga ‑soro.<br />

Como tornar ‑se um tradicionalista<br />

Na <strong>África</strong> do Bafur, como já foi dito, qualquer um podia tornar -se<br />

tradicionalista ‑doma, isto é, “Conhecedor”, em uma ou mais matérias tradicionais.<br />

O conhecimento estava à disposição de todos (sendo a iniciação onipresente<br />

sob uma forma ou outra) e sua aquisição dependia simplesmente <strong>da</strong>s aptidões<br />

individuais.<br />

O conhecimento era tão valorizado, que tinha precedência sobre tudo e<br />

conferia nobreza. O conhecedor, em qualquer área, podia sentar -se no Conselho<br />

dos Anciãos encarregado <strong>da</strong> administração <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, a despeito de sua<br />

categoria social – horon, nyamakala ou woloso. “O conhecimento não distingue<br />

raça nem ‘porta paterna’ (o clã). Ele enobrece o homem”, diz o provérbio.<br />

A educação africana não tinha a sistemática do ensino europeu, sendo<br />

dispensa<strong>da</strong> durante to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>. A própria vi<strong>da</strong> era educação. No Bafur, até os<br />

42 anos, um homem devia estar na escola <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e não tinha “direito a palavra”<br />

em assembleias, a não ser excepcionalmente. Seu dever era ficar “ouvindo” e<br />

aprofun<strong>da</strong>r o conhecimento que veio recebendo desde sua iniciação, aos 21<br />

anos. A partir dos 42 anos, supunha -se que já tivesse assimilado e aprofun<strong>da</strong>do<br />

os ensinamentos recebidos desde a infância. Adquiria o direito a palavra nas<br />

assembleias e tornava -se, por sua vez, um mestre, para devolver à socie<strong>da</strong>de<br />

aquilo que dela havia recebido. Mas isso não o impedia de continuar aprendendo<br />

com os mais velhos, se assim o desejasse, e de lhes pedir conselhos. Um homem<br />

idoso encontrava sempre outro mais velho ou mais sábio do que ele, a quem<br />

pudesse solicitar uma informação adicional ou uma opinião. “Todos os dias”,<br />

costuma -se dizer, “o ouvido ouve aquilo que ain<strong>da</strong> não ouviu”. Assim, a educação<br />

podia durar a vi<strong>da</strong> inteira.<br />

Após aprender o ofício e seguir a iniciação correspondente, o jovem nyamakala<br />

– artesão, pronto para voar com suas próprias asas, ia geralmente de ci<strong>da</strong>de em

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