29.03.2013 Views

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

190 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

grande escola iniciatória ou mágico -religiosa, uma via de acesso à Uni<strong>da</strong>de, <strong>da</strong><br />

qual, para os iniciados, é um reflexo ou uma expressão peculiar.<br />

Geralmente, a fim de conservar restritos à linhagem os conhecimentos<br />

secretos e os poderes mágicos deles decorrentes, todo grupo devia observar<br />

proibições sexuais rigorosas em relação a pessoas estranhas ao grupo e praticar<br />

a endogamia. A endogamia, portanto, não se deve à ideia de intocabili<strong>da</strong>de,<br />

mas ao desejo de manter dentro do grupo os segredos rituais. Assim, podemos<br />

perceber como esses grupos, rigorosamente especializados e harmonizados com<br />

as “funções sagra<strong>da</strong>s”, gradualmente chegaram à noção de “casta”, tal como existe<br />

atualmente na <strong>África</strong> <strong>da</strong> savana. “A guerra e o nobre fazem o escravo” – diz o<br />

adágio –, “mas é Deus quem faz o artesão (o nyamakala).”<br />

A noção de castas superiores ou inferiores, por conseguinte, não se baseia<br />

em uma reali<strong>da</strong>de sociológica tradicional. Ela surgiu com o decorrer do tempo,<br />

apenas em determinados lugares, provavelmente como consequência <strong>da</strong> aparição<br />

de alguns impérios onde a função de guerreiro, reserva<strong>da</strong> aos nobres, lhes conferia<br />

uma espécie de supremacia. No passado distante, a noção de nobreza era sem<br />

dúvi<strong>da</strong> diferente, e o poder espiritual tinha precedência sobre o poder temporal.<br />

Naquele tempo, eram os Silatigui (mestres iniciados peul), e não os Ardo (chefes,<br />

reis) que governavam as comuni<strong>da</strong>des peul.<br />

Contrariamente ao que alguns escreveram ou supuseram, o ferreiro é muito<br />

mais temido do que desprezado na <strong>África</strong>. “Primeiro filho <strong>da</strong> Terra”, mestre do<br />

Fogo e manipulador de forças misteriosas, é temido, acima de tudo, pelo seu<br />

poder.<br />

De qualquer maneira, a tradição sempre atribuiu aos nobres a obrigação<br />

de garantir a conservação <strong>da</strong>s “castas” ou classes de nyamakala (em bambara;<br />

nyeenyo, pl. nyeeybe, em fulani). Tais classes gozam <strong>da</strong> prerrogativa de obter<br />

mercadorias (ou dinheiro) não como retribuição de um trabalho, mas como o<br />

reclamo de um privilégio que o nobre não podia recusar.<br />

Na tradição do Mande, cujo centro se acha no Mali, mas que cobre mais<br />

ou menos todo o território do antigo Bafur (isto é, a antiga <strong>África</strong> ocidental<br />

francesa, com exceção <strong>da</strong>s zonas de floresta e <strong>da</strong> parte oriental <strong>da</strong> Nigéria), as<br />

“castas”, ou nyamakala compreendem:<br />

• os ferreiros (numu em bambara, baylo em fulfulde);<br />

• os tecelões (maabo em bambara e em fulfulde);<br />

• os trabalhadores <strong>da</strong> madeira (tanto o lenhador como o marceneiro; saki em<br />

bambara, labbo em fulfulde);<br />

• os trabalhadores do couro (garanke em bambara, sakke em fulfulde);

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!