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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A arte pré -histórica africana<br />

Esquematismo <strong>da</strong>s teorias raciais<br />

Essa observação é ain<strong>da</strong> mais váli<strong>da</strong> quando consideramos as “raças”<br />

responsáveis pela produção artística. Mas não seria um abuso de linguagem utilizar,<br />

neste caso, o conceito de raça? 30 Poderiam os poucos esqueletos ou restos ósseos<br />

disponíveis autorizar a elaboração <strong>da</strong>s ousa<strong>da</strong>s teorias sobre o povoamento por<br />

“raças” pré -históricas? Entretanto, certos autores esquematizaram um processo<br />

demográfico de rara complexi<strong>da</strong>de, que passamos a relatar. Após o povoamento<br />

original por “africanos” autóctones, povos neandertalenses do Oriente Próximo<br />

teriam emigrado para a <strong>África</strong> em dois ramos, um avançando até o Marrocos<br />

e o outro em direção aos planaltos elevados do leste africano através do Chifre<br />

<strong>da</strong> <strong>África</strong>. São os aterienses do Paleolítico Médio. Em segui<strong>da</strong>, após uma fase<br />

epipaleolítica, provavelmente relaciona<strong>da</strong> ao Sebiliense do Egito, uma outra<br />

vaga de povos cro -magnoides teria atingido a <strong>África</strong> do Norte, comportando<br />

um núcleo ibero -maurusiense e um núcleo capsiense. Sem dúvi<strong>da</strong>, esses grupos<br />

teriam passado por um processo de neolitização em seus novos habitats, <strong>da</strong>ndo<br />

origem, em particular, ao Neolítico de tradição capsiense que ocupa, entre outras<br />

regiões, o norte do Saara. No entanto, outros centros apresentam uma notável<br />

diversificação técnica e artística. Devemos citar, sobretudo, a forte influência <strong>da</strong>s<br />

tradições neolíticas su<strong>da</strong>nesa e “guineense”, com centros secundários em Ténéré<br />

e no litoral atlântico ao norte <strong>da</strong> Mauritânia 31 . Na opinião de certos autores,<br />

o período bubaliano <strong>da</strong> arte rupestre seria devido a povos “mediterrânicos”<br />

mal definidos, brancos segundo alguns, mestiços de acordo com outros. O<br />

período <strong>da</strong>s “Cabeças redon<strong>da</strong>s” seria atribuído a grupos “negroides” os quais,<br />

consideram alguns, ter -se -iam miscigenado com povos do Oriente Próximo<br />

e constituiriam o Neolítico de tradição su<strong>da</strong>nesa. O período bovidiano seria<br />

obra dos ancestrais dos peul. Finalmente, mais ao sul, a tradição denomina<strong>da</strong><br />

guineense teria influenciado até as construções sobre a falésia de Tichitt<br />

(Mauritânia). É preciso salientar que to<strong>da</strong>s essas reconstituições são demasiado<br />

frágeis e privilegiam enormemente as influências extra -africanas. Chega -se ao<br />

ponto de falar de “níti<strong>da</strong> influência africana” numa representação rupestre do<br />

Saara. Mas, sobretudo, essas reconstituições tendem a estabelecer equivalências<br />

entre conceitos tão diversos quanto raça, etnia, gênero de vi<strong>da</strong> e civilização.<br />

Há referências a negros, brancos, peul, africanos, capsienses, su<strong>da</strong>neses, sem<br />

30 O processo de especiação a que se refere J. Ruffié já deveria estar, em grande parte, abolido, sobretudo<br />

com as miscigenações facilita<strong>da</strong>s pela ecologia bastante homogênea do habitat saariano. Ver capítulo 10,<br />

parte II, “Teorias relativas às ‘raças’ e história <strong>da</strong> <strong>África</strong>”, p. 277 -286.<br />

31 Cf. H. J. HUGOT, 1979, p. 62 et seqs.<br />

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