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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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188 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

quem cria, não eu”. Em segui<strong>da</strong>, apanha um pouco de água, ou um ovo, oferece -a<br />

à bigorna e diz: “Eis teu dote”.<br />

Pega o martelo, que simboliza o falo, e aplica alguns golpes na bigorna para<br />

“sensibilizá -la”. Estabeleci<strong>da</strong> a comunicação, ele pode começar a trabalhar.<br />

O aprendiz não deve fazer perguntas. Deve apenas observar com atenção<br />

e soprar. Esta é a fase “mu<strong>da</strong>” do aprendizado. À medi<strong>da</strong> que vai avançando<br />

na assimilação do conhecimento, o aprendiz sopra em ritmos ca<strong>da</strong> vez mais<br />

complexos, ca<strong>da</strong> um deles possuindo um significado. No decorrer <strong>da</strong> fase oral do<br />

aprendizado, o Mestre transmitirá gradualmente todos os seus conhecimentos<br />

ao discípulo, treinando -o e corrigindo -o até que adquira a mestria. Após uma<br />

“cerimônia de liberação”, o novo ferreiro poderá deixar o mestre e instalar a sua<br />

própria forja. Comumente, o ferreiro envia os próprios filhos para outro ferreiro<br />

a fim de iniciarem seu aprendizado. Como diz o adágio: “As esposas e os filhos<br />

do Mestre não são seus melhores discípulos”.<br />

Assim, o artesão tradicional, imitando Maa Ngala, “repetindo” com seus<br />

gestos a criação primordial, realizava não um “trabalho” no sentido puramente<br />

econômico <strong>da</strong> palavra, mas uma função sagra<strong>da</strong> que empregava as forças<br />

fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e em que se aplicava todo o seu ser. Na intimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

oficina ou <strong>da</strong> forja, participava do mistério renovado <strong>da</strong> criação eterna.<br />

Os conhecimentos do ferreiro devem abranger um vasto setor <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Renomado ocultista, a mestria dos segredos do fogo e do ferro faz dele a única<br />

pessoa habilita<strong>da</strong> a praticar a circuncisão, e, como vimos, o grande “Mestre <strong>da</strong><br />

faca” na iniciação do Komo é invariavelmente um ferreiro. Não apenas sabe<br />

tudo o que diz respeito aos metais, como também conhece perfeitamente a<br />

classificação <strong>da</strong>s plantas e suas proprie<strong>da</strong>des.<br />

O ferreiro de alto -forno, que ao mesmo tempo extrai e funde o mineral, é<br />

o mais avançado em conhecimentos. À ciência de ferreiro fundidor, acrescenta<br />

o conhecimento perfeito dos “Filhos do seio <strong>da</strong> Terra” (mineralogia) e dos<br />

segredos <strong>da</strong>s plantas e <strong>da</strong> mata. De fato, ele conhece as espécies de vegetais<br />

que cobrem a terra que contém determinado metal e detecta um veio de ouro<br />

simplesmente examinando as plantas e os seixos. Conhece as encantações <strong>da</strong><br />

terra e as encantações <strong>da</strong>s plantas. Uma vez que se considera a natureza como<br />

viva e anima<strong>da</strong> pelas forças, todo ato que a perturba deve ser acompanhado de<br />

um “comportamento ritual” destinado a preservar e salvaguar<strong>da</strong>r o equilíbrio<br />

sagrado, pois tudo se liga, tudo repercute em tudo, to<strong>da</strong> ação faz vibrar as forças<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e desperta uma cadeia de consequências cujos efeitos são sentidos pelo<br />

homem.

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