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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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Teorias relativas às “raças” e história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

Isso é tão ver<strong>da</strong>deiro que, na <strong>África</strong> do Sul, um japonês é considerado como<br />

“branco honorário” e um chinês como “homem de cor”.<br />

Para Hiernaux, a espécie humana parece uma rede de territórios genéticos,<br />

de genomas coletivos que constituem populações mais ou menos semelhantes,<br />

cuja distância qualitativa é expressa por uma avaliação quantitativa (taxonomia<br />

numérica). As fronteiras desses territórios, definidos a partir do cline, flutuam<br />

com to<strong>da</strong>s as mu<strong>da</strong>nças que afetam os traços aparentes (fenótipos) e os <strong>da</strong>dos<br />

serológicos (genótipos) <strong>da</strong>s coletivi<strong>da</strong>des.<br />

Dessa maneira, qualquer “raça”, em conformi<strong>da</strong>de com a brilhante intuição de<br />

Darwin, seria em suma um processo em marcha, dependendo de algum modo <strong>da</strong><br />

dinâmica dos fluidos; e os povos seriam todos mestiços ou estariam em vias de<br />

sê -lo. De fato, ca<strong>da</strong> encontro de povos pode ser analisado como uma migração<br />

gênica e esse fluxo genético volta a questionar o capital biológico de ambos.<br />

Porém, mesmo que essa abor<strong>da</strong>gem fosse mais científica, mesmo que esses<br />

territórios genéticos mutáveis fossem realmente aceitos pelas comuni<strong>da</strong>des em<br />

questão, poderíamos dizer que os sentimentos de tipo “racial” seriam suprimidos,<br />

uma vez que conservariam sua base material visível e tangível, sob a forma de<br />

traços fenotípicos?<br />

Desde que os nazistas, a começar por Hitler, e em segui<strong>da</strong> outros<br />

pseudopensadores afirmaram que o homem mediterrâneo representa um nível<br />

intermediário entre o ariano, “Prometeu <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de”, e o negro, que é<br />

“por sua origem um meio -macaco”, o mito racial tem permanecido vivo. Os<br />

morfologistas impenitentes continuam a alimentar esse fogo ignóbil com alguns<br />

galhos mortos 9 . Lineu, no século XVIII, dividia a espécie humana em seis raças:<br />

americana, europeia, africana, asiática, selvagem e monstruosa. Com certeza, os<br />

racistas se encontram numa ou noutra <strong>da</strong>s duas últimas categorias.<br />

De to<strong>da</strong>s essas teses, hipóteses e teorias, devemos conservar o caráter dinâmico<br />

dos fenômenos “raciais”, tendo em mente que se trata de um dinamismo lento<br />

e espesso, que se exerce sobre uma enorme quanti<strong>da</strong>de de registros, nos quais a<br />

cor <strong>da</strong> pele (mesmo que ela seja medi<strong>da</strong> por eletroespectrofotômetro) ou a forma<br />

do nariz constituem apenas um aspecto quase irrisório. Nessa dinâmica, devem<br />

ser levados em conta dois componentes que agem em conjunto: o patrimônio<br />

9 J. RUFFIE cita um dicionário francês de medicina e biologia que, em 1972, mantém o conceito de<br />

raça segundo o qual existem três grupos principais (brancos, negros, amarelos), baseados em critérios<br />

morfológicos, anatômicos, sociológicos… e também psicológicos… No início do século, C. SEIGNOBOS,<br />

em sua Histoire de la Civilisation, escrevia: “Os homens que povoam a terra… também diferem em língua,<br />

inteligência e sentimentos. Essas diferenças permitem dividir os habitantes <strong>da</strong> terra em vários grupos<br />

conhecidos como ‘raças’”.<br />

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