29.03.2013 Views

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

32 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

do “animismo” 3 africano em que o tempo é o campo fechado e o mercado no<br />

qual se confrontam ou negociam as forças que habitam o mundo. Defender -se<br />

contra qualquer diminuição de seu ser, desenvolver a saúde, a forma física, a<br />

extensão de seus campos, a grandeza de seus rebanhos, o número de filhos, de<br />

mulheres, de aldeias, este é o ideal dos indivíduos e <strong>da</strong>s coletivi<strong>da</strong>des. E essa<br />

concepção é incontestavelmente dinâmica. Os clãs Cerko e Sonianke (Níger)<br />

são antagonistas. O primeiro, que representa o passado e tenta reinar sobre a<br />

noite, ataca a socie<strong>da</strong>de. O segundo, ao contrário, é o mestre do dia; representa o<br />

presente e defende a socie<strong>da</strong>de. Esse simbolismo é eloquente em si. Mas vejamos<br />

uma estrofe significativa <strong>da</strong> invocação mágica entre os Songhai:<br />

“Não é <strong>da</strong> minha boca<br />

É <strong>da</strong> boca de A<br />

Que o deu a B<br />

Que o deu a C<br />

Que o deu a D<br />

Que o deu a E<br />

Que o deu a F<br />

Que o deu a mim<br />

Que o meu esteja melhor na minha boca<br />

Que na dos ancestrais.”<br />

Existe assim no africano uma vontade constante de invocar o passado, que<br />

constitui para ele uma justificação. Mas esta invocação não significa o imobilismo<br />

e não contradiz a lei geral <strong>da</strong> acumulação <strong>da</strong>s forças e do progresso. Daí a frase:<br />

“Que o meu esteja melhor na minha boca que na dos ancestrais”.<br />

O poder na <strong>África</strong> negra se expressa em geral por uma palavra que significa<br />

“a força” 4 . Esta sinonímia assinala a importância que os povos africanos<br />

outorgam à força e mesmo à violência no desenrolar <strong>da</strong> história. Mas não se<br />

trata simplesmente <strong>da</strong> força material bruta. Trata -se <strong>da</strong> energia vital que reúne<br />

uma polivalência de forças, que vão <strong>da</strong> integri<strong>da</strong>de física à sorte e à integri<strong>da</strong>de<br />

moral. O valor ético é considerado, na ver<strong>da</strong>de, como uma condição sine qua non<br />

do exercício benéfico do poder. A sabedoria popular é testemunha dessa ideia<br />

e em numerosos contos coloca em cena chefes despóticos que são punidos no<br />

final, extraindo assim literalmente desse fato a moral <strong>da</strong> história. O Ta’rikh‑<br />

3 O animismo, ou ain<strong>da</strong> melhor, a religião tradicional africana, caracteriza -se pelo culto devotado a Deus<br />

e às forças dos espíritos intermediários.<br />

4 Fanga (em bambara), panga (em more), pan (em samo).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!