29.03.2013 Views

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

174 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

movimento precisa de ritmo, estando ele próprio fun<strong>da</strong>mentado no segredo dos<br />

números. A fala deve reproduzir o vaivém que é a essência do ritmo.<br />

Nas canções rituais e nas fórmulas encantatórias, a fala é, portanto, a<br />

materialização <strong>da</strong> cadência. E se é considera<strong>da</strong> como tendo o poder de agir sobre<br />

os espíritos, é porque sua harmonia cria movimentos, movimentos que geram<br />

forças, forças que agem sobre os espíritos que são, por sua vez, as potências <strong>da</strong><br />

ação.<br />

Na tradição africana, a fala, que tira do sagrado o seu poder criador e<br />

operativo, encontra -se em relação direta com a conservação ou com a ruptura<br />

<strong>da</strong> harmonia no homem e no mundo que o cerca.<br />

Por esse motivo a maior parte <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des orais tradicionais considera a<br />

mentira uma ver<strong>da</strong>deira lepra moral. Na <strong>África</strong> tradicional, aquele que falta à<br />

palavra mata sua pessoa civil, religiosa e oculta. Ele se separa de si mesmo e <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de. Seria preferível que morresse, tanto para si próprio como para os seus.<br />

O chantre do Komo Dibi de Kulikoro, no Mali, cantou em um de seus<br />

poemas rituais:<br />

“A fala é divinamente exata,<br />

convém ser exato para com ela”.<br />

“A língua que falsifica a palavra<br />

vicia o sangue <strong>da</strong>quele que mente.”<br />

O sangue simboliza aqui a força vital interior, cuja harmonia é perturba<strong>da</strong> pela<br />

mentira. “Aquele que corrompe sua palavra, corrompe a si próprio”, diz o adágio.<br />

Quando alguém pensa uma coisa e diz outra, separa -se de si mesmo. Rompe a<br />

uni<strong>da</strong>de sagra<strong>da</strong>, reflexo <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de cósmica, criando desarmonia dentro e ao redor<br />

de si.<br />

Agora podemos compreender melhor em que contexto mágico -religioso e social<br />

se situa o respeito pela palavra nas socie<strong>da</strong>des de tradição oral, especialmente quando<br />

se trata de transmitir as palavras her<strong>da</strong><strong>da</strong>s de ancestrais ou de pessoas idosas. O que a<br />

<strong>África</strong> tradicional mais preza é a herança ancestral. O apego religioso ao patrimônio<br />

transmitido exprime -se em frases como: “Aprendi com meu Mestre”, “Aprendi com<br />

meu pai”, “Foi o que suguei no seio de minha mãe”.<br />

Os tradicionalistas<br />

Os grandes depositários <strong>da</strong> herança oral são os chamados “tradicionalistas”.<br />

Memória viva <strong>da</strong> <strong>África</strong>, eles são suas melhores testemunhas. Quem são esses mestres?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!