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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição viva<br />

disse antes, grande número de seus representantes ou depositários ain<strong>da</strong> pode<br />

ser encontrado. Mas por quanto tempo?<br />

O grande problema <strong>da</strong> <strong>África</strong> tradicional é, em ver<strong>da</strong>de, o <strong>da</strong> ruptura <strong>da</strong><br />

transmissão.<br />

Nas antigas colônias francesas, a primeira grande ruptura veio com a guerra<br />

de 1914, quando a maioria dos jovens se alistou para ir combater na França,<br />

de onde muitos nunca retornaram. Estes jovens deixaram o país na i<strong>da</strong>de em<br />

que deveriam estar passando pelas grandes iniciações e aprofun<strong>da</strong>ndo seus<br />

conhecimentos sob a direção dos mais velhos.<br />

O fato de que era obrigatório para homens importantes enviarem seus filhos<br />

a “escolas de brancos”, de modo a separá -los <strong>da</strong> tradição, favoreceu igualmente<br />

esse processo. A maior preocupação do poder colonial era, compreensivelmente,<br />

remover as tradições autóctones tanto quanto possível para implantar no lugar<br />

suas próprias concepções. As escolas, seculares ou religiosas, constituíram os<br />

instrumentos essenciais desta ceifa<strong>da</strong>.<br />

A educação “moderna” recebi<strong>da</strong> por nossos jovens após o fim <strong>da</strong> última<br />

guerra concluiu o processo e criou um ver<strong>da</strong>deiro fenômeno de aculturação.<br />

A iniciação, fugindo dos grandes centros urbanos, buscou refúgio na<br />

floresta, onde, devido à atração <strong>da</strong>s grandes ci<strong>da</strong>des e ao surgimento de novas<br />

necessi<strong>da</strong>des, os “anciãos” encontram ca<strong>da</strong> vez menos “ouvidos dóceis” a quem<br />

possam transmitir seus ensinamentos, pois, segundo uma expressão consagra<strong>da</strong>,<br />

o ensino só pode se <strong>da</strong>r “de boca perfuma<strong>da</strong> a ouvido dócil e limpo” (ou seja,<br />

inteiramente receptivo).<br />

Estamos hoje, portanto, em tudo o que concerne à tradição oral, diante <strong>da</strong><br />

última geração dos grandes depositários. Justamente por esse motivo o trabalho de<br />

coleta deve ser intensificado durante os próximos 10 ou 15 anos, após os quais<br />

os últimos grandes monumentos vivos <strong>da</strong> cultura africana terão desaparecido<br />

e, junto com eles, os tesouros insubstituíveis de uma educação peculiar, ao<br />

mesmo tempo material, psicológica e espiritual, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> no sentimento<br />

de uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e cujas fontes se perdem na noite dos tempos.<br />

Para que o trabalho de coleta seja bem -sucedido, o pesquisador deverá se<br />

armar de muita paciência, lembrando que deve ter “o coração de uma pomba,<br />

a pele de um crocodilo e o estômago de uma avestruz”. “O coração de uma<br />

pomba” para nunca se zangar nem se inflamar, mesmo se lhe disserem coisas<br />

desagradáveis. Se alguém se recusa a responder sua pergunta, inútil insistir; vale<br />

mais instalar -se em outro ramo. Uma disputa aqui terá repercussões em outra<br />

parte, enquanto uma saí<strong>da</strong> discreta fará com que seja lembrado e, muitas vezes,<br />

chamado de volta. “A pele de um crocodilo”, para conseguir se deitar em qualquer<br />

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