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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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204 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

não conhecesse pelo menos 10 ou 12 gerações de antepassados. Dentre todos<br />

os velhos tukulor que vieram para Macina com al -Hadjdj’Umar não havia um<br />

que não soubesse sua genealogia no Futa Senegal (seu país de origem) e seu<br />

parentesco com as famílias que lá permaneceram. Foram eles que Mamadou<br />

Molom, filho de Molom Gaolo, consultou quando veio ao Mali para <strong>da</strong>r<br />

prosseguimento à pesquisa de seu pai.<br />

A genealogia é, desse modo, ao mesmo tempo sentimento de identi<strong>da</strong>de,<br />

meio de exaltar a glória <strong>da</strong> família e recurso em caso de litígio. Um conflito por<br />

um pe<strong>da</strong>ço de terra, por exemplo, poderia ser resolvido por um genealogista,<br />

que indicaria qual ancestral havia limpado e cultivado a terra, para quem a havia<br />

<strong>da</strong>do, sob que condições, etc.<br />

Ain<strong>da</strong> hoje encontramos entre a população muitos conhecedores de<br />

genealogia e história que não pertencem nem à classe dos dieli nem à dos gaolo.<br />

Temos aí uma importante fonte de informações para a história <strong>da</strong> <strong>África</strong>, pelo<br />

menos ain<strong>da</strong> por um certo tempo. Ca<strong>da</strong> patriarca é um genealogista para seu<br />

próprio clã, e os dieli e gaolo vêm frequentemente lhes pedir informações com o<br />

propósito de complementar seus conhecimentos. De modo geral, todo velho na<br />

<strong>África</strong> é sempre um “Conhecedor” em algum assunto histórico ou tradicional.<br />

O conhecimento genealógico não é, portanto, exclusivi<strong>da</strong>de dos griots e gaolo,<br />

mas são eles os únicos especialistas em declamar genealogias perante os nobres<br />

para obter presentes.<br />

Influência do Islã<br />

As peculiari<strong>da</strong>des <strong>da</strong> memória africana e as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de sua transmissão<br />

oral não foram afeta<strong>da</strong>s pela islamização, que atingiu grande parte dos países<br />

<strong>da</strong> savana ou do antigo Bafur. De fato, por onde se espalhou, o Islã não a<strong>da</strong>ptou<br />

a tradição africana a seu modo de pensar, mas, pelo contrário, a<strong>da</strong>ptou -se à<br />

tradição africana quando – como normalmente ocorria – esta não violava seus<br />

princípios fun<strong>da</strong>mentais. A simbiose assim origina<strong>da</strong> foi tão grande, que por<br />

vezes torna -se difícil distinguir o que pertence a uma ou a outra tradição.<br />

A grande família árabe -berbere dos Kunta islamizou a região bem antes do<br />

século XI. Logo que aprenderam o árabe, os autóctones passaram a se utilizar<br />

de suas tradições ancestrais para transmitir e explicar o Islã.<br />

Grandes escolas islâmicas puramente orais ensinavam a religião nas línguas<br />

vernáculas (exceto o Corão e os textos que fazem parte <strong>da</strong> oração canônica). Podemos<br />

mencionar, entre muitas outras, a escola oral de Djelgodji (chama<strong>da</strong> Kabe), a escola

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