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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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34 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

acabavam às vezes substituindo clandestinamente o poder constituído. Elas<br />

apareciam assim às pessoas como centros ocultos de decisão, que confiscavam ao<br />

povo o controle de sua própria história. Nesse tipo de socie<strong>da</strong>de, a organização<br />

em classes etárias é uma estrutura de primeira importância no encaminhamento<br />

<strong>da</strong> história do povo. Essa estrutura, na medi<strong>da</strong> em que está estabeleci<strong>da</strong> a partir<br />

de uma periodici<strong>da</strong>de conheci<strong>da</strong>, permite reconstituir a história dos povos até<br />

o século XVIII. Mas desempenhava também uma função específica na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

socie<strong>da</strong>des. De fato, mesmo nas coletivi<strong>da</strong>des rurais que desconheciam maiores<br />

inovações técnicas e eram, consequentemente, bastante estáveis, os conflitos de<br />

gerações não estavam ausentes. Era necessário então assumi -los, por assim dizer,<br />

ordenando o fluxo <strong>da</strong>s gerações e estruturando as relações entre elas para evitar<br />

que degenerassem em conflitos violentos resultantes de bruscas mutações. A<br />

geração engaja<strong>da</strong> na ação delega um de seus membros à geração de jovens que<br />

a sucede. O papel desse adulto não é o de aplacar a impaciência dos jovens, mas<br />

de canalizar a fúria irrefleti<strong>da</strong> que poderia ser nefasta ao conjunto <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de<br />

ou que, na melhor <strong>da</strong>s hipóteses, prepararia mal os interessados para assumir<br />

suas responsabili<strong>da</strong>des públicas 6 .<br />

A consciência do tempo passado era muito viva entre os africanos. No entanto,<br />

esse tempo que tem um grande peso sobre o presente não anula o dinamismo<br />

deste, como testemunham numerosos provérbios. A concepção do tempo tal<br />

como a detectamos nas socie<strong>da</strong>des africanas não é, com certeza, inerente ou<br />

consubstancial a uma espécie de “natureza” africana. É a marca de um estágio<br />

no desenvolvimento econômico e social. Prova disso são as diferenças flagrantes<br />

que notamos ain<strong>da</strong> hoje entre o tempo -dinheiro dos habitantes <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des e<br />

o tempo tal como é apreendido pelos habitantes do campo. O essencial é que<br />

a ideia de desenvolvimento a partir <strong>da</strong>s origens (a serem pesquisa<strong>da</strong>s) esteja<br />

presente. Mesmo sob a forma de contos e de len<strong>da</strong>s, ou de resquícios de mitos,<br />

trata -se de um esforço para racionalizar o desenvolvimento social. Às vezes,<br />

têm -se verificado esforços ain<strong>da</strong> mais positivos no sentido de iniciar o cálculo do<br />

tempo histórico. Este pode estar relacionado com o espaço, como quando se fala<br />

em “<strong>da</strong>r um passo”, para qualificar uma duração mínima. Pode estar relacionado<br />

também à vi<strong>da</strong> biológica, como o tempo de uma inspiração ou de uma expiração.<br />

Mas está frequentemente relacionado a fatores exteriores ao indivíduo, como<br />

por exemplo, os fenômenos cósmicos, climáticos e sociais, sobretudo quando<br />

6 Por exemplo, entre os Alladian de Moosu (perto de Abidjan) a organização por gerações (em número<br />

de cinco, ca<strong>da</strong> uma “reinando” nove anos) permanece em vigor inclusive para tarefas de tipo “moderno”:<br />

construção, festa de formatura ou de promoção…

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