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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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26 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

expressão de vi<strong>da</strong>, desde o riso até a agricultura e a união sexual dos animais e <strong>da</strong>s<br />

pessoas. O interregno constitui um parênteses no tempo. Apenas o advento de<br />

um novo rei recria o tempo social que se reanima novamente. Tudo é onipresente<br />

nesse tempo intemporal do pensamento animista, no qual a parte representa e<br />

pode significar o todo; como os cabelos e unhas que se impede de caírem nas<br />

mãos dos inimigos por medo de que estes tenham poder sobre a pessoa.<br />

De fato, é preciso atingir uma concepção geral do mundo para entender a<br />

visão e o significado profundo do tempo entre os africanos. Veremos então que<br />

no pensamento tradicional, o tempo perceptível pelos sentidos não passa de um<br />

aspecto de um outro tempo vivido por outras dimensões <strong>da</strong> pessoa. Quando vem<br />

a noite e o homem se estende sobre sua esteira ou sua cama para dormir, é o<br />

momento que seu duplo escolhe para partir, para percorrer o caminho seguido<br />

pelo homem durante o dia, frequentar os lugares que ele frequentou e refazer<br />

os gestos e os trabalhos que ele realizou conscientemente durante a vi<strong>da</strong> diurna.<br />

É no curso dessas peregrinações que o duplo se choca com as forças do Bem<br />

e do Mal, com os bons gênios e com os feiticeiros devoradores de duplos ou<br />

cerko (em língua songhai e zarma). É no duplo que reside a personali<strong>da</strong>de de<br />

ca<strong>da</strong> um. O songhai diz que o bya (duplo) de um homem é pesado ou leve,<br />

querendo significar que sua personali<strong>da</strong>de é forte ou frágil: os amuletos têm<br />

como finali<strong>da</strong>de proteger e reforçar o duplo. E o ideal é chegar a confundir -se<br />

com o próprio duplo, a fundir -se nele até formar uma só enti<strong>da</strong>de, que ascende<br />

assim a um grau de sabedoria e de força sobre -humano. Somente o grande<br />

iniciado, o mestre (kortékonynü, zimaa) atinge esse estado em que o tempo e<br />

o espaço não constituem mais obstáculos. Era esse o caso de SI, o ancestral<br />

epônimo <strong>da</strong> dinastia: “Assustador é o pai dos SI, o pai dos trovões. Quando ele<br />

está com uma cárie, é então que mastiga cascalhos; quando está com conjuntivite,<br />

é nesse momento que, resplandecente, acende o fogo. Com seus grandes passos,<br />

ele percorre a terra. Ele está em to<strong>da</strong> parte e em parte alguma”.<br />

O tempo social, a história, vivi<strong>da</strong> assim pelo grupo, acumula um poder que<br />

é a maior parte do tempo simbolizado e concretizado num objeto transmitido<br />

pelo patriarca, chefe do clã ou rei ao seu sucessor. Pode tratar -se de uma bola de<br />

ouro conserva<strong>da</strong> num tobal (tambor de guerra) associado a elementos extraídos<br />

do corpo do leão, do elefante ou <strong>da</strong> pantera. Esse objeto pode estar fechado<br />

numa caixa ou numa arca, como as insígnias reais (tibo) do rei mossi… Entre<br />

os Songhai -Zarma, é uma haste de ferro afia<strong>da</strong> numa <strong>da</strong>s extremi<strong>da</strong>des. Já entre<br />

os Sorko do antigo Império de Gao, é um ídolo em forma de um grande peixe<br />

provido de uma argola na boca. Entre os ferreiros, é uma forja mítica que às vezes,<br />

durante a noite, torna -se rubra para expressar sua cólera. A transferência desses

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