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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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844 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

pigmeus reproduzem, em pleno século XX, as próprias técnicas dos africanos <strong>da</strong><br />

<strong>Pré</strong> -<strong>História</strong>, de milhares de anos atrás.<br />

Para além do esplêndido apogeu <strong>da</strong> civilização egípcia e <strong>da</strong>s realizações<br />

eminentes ou gloriosas de tantos reinos e impérios africanos, essa reali<strong>da</strong>de<br />

maciça perdura, <strong>da</strong>ndo corpo e textura à linha de desenvolvimento <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des<br />

africanas, e merece ser destaca<strong>da</strong> de forma conveniente.<br />

Decerto, o “sentido <strong>da</strong> história” nunca implicou uma direção unívoca, com a<br />

qual o espírito dos homens tenha concor<strong>da</strong>do unanimemente. As concepções a<br />

esse respeito são múltiplas.<br />

Marx e Teilhard de Chardin têm, ca<strong>da</strong> um, as suas. A própria <strong>África</strong> produziu<br />

pensadores, alguns dos quais tinham uma visão profun<strong>da</strong> <strong>da</strong> dinâmica e do<br />

destino do movimento histórico. Santo Agostinho (354 -430) faz a visão dos<br />

historiadores <strong>da</strong>r um passo de gigante, ao romper com a concepção cíclica do<br />

eterno retorno, corrente nessa época, e professar que, do pecado original ao juízo<br />

final, existe um eixo irreversível, traçado em seu conjunto pela vontade divina,<br />

mas ao longo do qual, por seus atos, ca<strong>da</strong> homem se salva ou se perde. E a ci<strong>da</strong>de<br />

terrestre é estu<strong>da</strong><strong>da</strong> em seu passado apenas para que nela sejam detectados os<br />

sinais anunciadores <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de Deus.<br />

Por sua vez, Ibn Khaldun (1332 -1406), embora reconhecendo a Alá um<br />

império eminente sobre os destinos humanos, é o fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> <strong>História</strong> como<br />

ciência, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> em provas confirma<strong>da</strong>s pela razão. “Deve -se confiar<br />

em seu próprio julgamento, já que to<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de pode ser concebi<strong>da</strong> pela<br />

inteligência.” Por outro lado, para ele, o objetivo dessa ciência não é apenas a<br />

espuma superficial dos acontecimentos: “qual é a vantagem de relatar os nomes<br />

<strong>da</strong>s mulheres de um antigo soberano, ou a inscrição grava<strong>da</strong> em seu anel?”. Ele<br />

estu<strong>da</strong>, sobretudo, os modos de produção e de vi<strong>da</strong>, as relações sociais, em suma,<br />

a civilização (al ‑Umrān al ‑Basharī). Finalmente, elabora, para explicar o processo<br />

de progressão <strong>da</strong> história, uma teoria dialética que opõe o papel do espírito<br />

solidário igualitarista (asabiya) à ditadura do rei, respectivamente nas zonas<br />

rurais e pastoris (al ‑Umrān al ‑Ba<strong>da</strong>wī) e nas ci<strong>da</strong>des (al ‑Umrān al ‑Ha<strong>da</strong>rī).<br />

Portanto, há uma passagem incessante e alterna<strong>da</strong> do dominium de um ao <strong>da</strong><br />

outra forma de civilização, sem que esse ritmo seja cíclico, pois se reproduz, a<br />

ca<strong>da</strong> vez, em um nível superior, para <strong>da</strong>r origem a uma espécie de progressão em<br />

espiral. Afirmando que “as diferenças nos costumes e nas instituições dos diversos<br />

povos dependem <strong>da</strong> maneira como ca<strong>da</strong> um deles provê à sua subsistência”, Ibn<br />

Khaldun formulava, com clareza e alguns séculos de antecedência, uma <strong>da</strong>s<br />

proposições fun<strong>da</strong>mentais do materialismo histórico de Karl Marx. Este último,<br />

após ter analisado, com o vigor e o poder de síntese que lhe são característicos,

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