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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição oral e sua metodologia<br />

O termo “poema” é apenas um rótulo para todo o material decorado e dotado<br />

de uma estrutura específica, incluindo canções. O termo “fórmula” é um rótulo<br />

que frequentem ente inclui provérbios, chara<strong>da</strong>s, orações, genealogias, isto é,<br />

tudo que é decorado, mas que não está sujeito a regras de composição, a não<br />

ser às <strong>da</strong> gramática corrente. Em ambos os casos, as tradições compreendem<br />

não só a mensagem, mas também as próprias palavras que lhe servem de<br />

veículo. Teoricamente, portanto, um arquétipo original pode ser reconstruído,<br />

exatamente como no caso <strong>da</strong>s fontes escritas. Podem -se construir argumentos<br />

históricos sobre as palavras e não apenas sobre o sentido geral <strong>da</strong> mensagem.<br />

To<strong>da</strong>via, acontece muitas vezes com as fórmulas, e menos com os poemas, ser<br />

impossível reconstruir arquétipos devido ao grande número de interpolações.<br />

Por exemplo, quando se reconhece que o lema de um clã é o produto de uma<br />

série de empréstimos de outros lemas, sem que se possa identificar aquilo que<br />

constituía o enunciado original e específico. Pode -se muito bem compreender<br />

por que as fórmulas se prestam tão facilmente à interpolação. Na reali<strong>da</strong>de, não<br />

existe nenhuma regra formal que impeça esse processo.<br />

As fontes fixas são, em princípio, as mais valiosas, pois sua transmissão<br />

é mais precisa. Na prática, raras são as que têm o propósito consciente de<br />

transmitir informações históricas. Além disso, é nesse caso que encontramos<br />

arcaísmos por vezes inexplicados. Nas línguas bantu, seu significado pode ser<br />

descoberto, pois é grande a probabili<strong>da</strong>de de uma língua vizinha ter conservado<br />

uma palavra com a mesma raiz que o arcaísmo em questão. Em outros casos,<br />

devemos nos conformar com o comentário do informante, que pode repetir<br />

um comentário tradicional ou… inventá -lo. Infelizmente, esse tipo de registro<br />

oral vem carregado de alusões poéticas, imagens ocultas, jogo de palavras com<br />

múltiplos significados. Não só é impossível compreender qualquer coisa dessa<br />

elocução “hermética” sem um comentário, mas também, muitas vezes, só o autor<br />

conhece todos os aspectos do seu significado. Mas ele não transmite tudo no<br />

comentário explicativo, de quali<strong>da</strong>de variável, que acompanha a transmissão do<br />

poema. Essa peculiari<strong>da</strong>de é bastante comum, especialmente no que se refere aos<br />

poemas ou canções panegíricos <strong>da</strong> <strong>África</strong> meridional (Tsuana, Sotho), oriental<br />

(a região lacustre), central (Luba, Congo) ou ocidental (Ijo).<br />

A denominação “epopeia” significa que o artista pode escolher suas próprias<br />

palavras dentro de um conjunto estabelecido de regras formais, como as rimas,<br />

os padrões tonais, o número de sílabas, etc. Esse caso específico não deve ser<br />

confundido com as peças literárias longas, de estilo heroico, como as narrativas<br />

de Sundiata, Mwindo (Zaire) e muitas outras. No gênero de que tratamos,<br />

a tradição inclui a mensagem e a estrutura formal, na<strong>da</strong> mais. Muitas vezes,<br />

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