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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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850 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

materialismo histórico seja universalmente aplicável, haveria razões para nos<br />

concentrarmos unicamente no essencial: as correspondências (não mecânicas)<br />

que podem ser observa<strong>da</strong>s entre as forças produtivas e as relações de produção,<br />

assim como a passagem (não mecânica) <strong>da</strong>s formas de socie<strong>da</strong>de sem classes<br />

às formas sociais de lutas de classe. Nesse caso, conviria analisar as reali<strong>da</strong>des<br />

africanas no contexto, não de um retorno, mas de recurso a Karl Marx. Se a razão<br />

é una, a ciência consiste em aplicá -la a ca<strong>da</strong> um de seus objetos.<br />

Em resumo, constata -se na <strong>África</strong> a permanência marcante de um modo de<br />

produção sui generis, semelhante aos outros tipos de comuni<strong>da</strong>des “primitivas”,<br />

mas com diferenças fun<strong>da</strong>mentais, especialmente uma espécie de aversão à<br />

proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong> ou estatal 21 .<br />

A seguir, há uma passagem gradual e esporádica para formas estatais, elas<br />

próprias imersas durante muito tempo na rede de relações pré -estatais subjacentes;<br />

tais formas emergem progressivamente, por impulso interno e pressão externa,<br />

<strong>da</strong> ganga do coletivismo primitivo desestruturado, para se reorganizarem, com<br />

base na apropriação priva<strong>da</strong> e no fortalecimento do Estado, num modo de<br />

produção capitalista, inicialmente dominante e depois monopolizador.<br />

O Estado colonial foi, na reali<strong>da</strong>de, criado para administrar as sucursais<br />

periféricas do capital, antes de ser substituído por um Estado capitalista<br />

independente, em meados do século XX. Alternativamente, ocorreu a transição<br />

do predomínio comunitário original para o do capitalismo colonial e depois para<br />

uma via socialista de desenvolvimento.<br />

De qualquer forma, um fato se impõe claramente na <strong>África</strong>: por razões<br />

estruturais que não sofreram modificações em sua essência há pelo menos meio<br />

milênio, e levando em conta o crescimento demográfico, as forças produtivas<br />

estagnaram -se, fato que não exclui crescimentos esporádicos e localizados, com<br />

ou sem desenvolvimento. Essa estagnação não exclui também o extraordinário<br />

florescimento artístico, nem o refinamento <strong>da</strong>s relações interpessoais. E como se<br />

os africanos tivessem investido nessas áreas a essência de sua energia criadora 22 .<br />

Em resumo, a civilização material, que teve origem nas latitudes tropicais afro-<br />

-asiáticas durante a <strong>Pré</strong> -<strong>História</strong>, espalhou -se em direção às latitudes setentrionais<br />

até o istmo europeu, onde, por um processo cumulativo de conjugação de técnicas<br />

21 Aversão que não está relaciona<strong>da</strong> a um específico estado inato, nem a uma “natureza” diferente, mas a<br />

um meio histórico original.<br />

22 Essa é a razão pela qual, na definição de um eventual “modo de produção africano” deveria <strong>da</strong>r -se<br />

atenção especial às “instituições” sociológicas, políticas e “ideológicas”. com referência às análises de A.<br />

GRAMSCI e de N. POULANTZAS.

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