29.03.2013 Views

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

388 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

mãe mama na avó” 1 , diz um provérbio africano. Na ausência de fontes escritas,<br />

a história <strong>da</strong> <strong>África</strong> deve coligar to<strong>da</strong>s as fontes disponíveis para reconstituir<br />

o passado. E a carência pode, afinal, transformar -se quase num fator positivo,<br />

na medi<strong>da</strong> em que permite fugir ao peso esmagador <strong>da</strong> escrita, que por vezes<br />

acarreta uma depreciação implícita <strong>da</strong>s outras fontes. Por outro lado, a pesquisa<br />

histórica e <strong>da</strong>s ciências humanas na <strong>África</strong> sofreu, por longo tempo, de dois<br />

males contraditórios. Em primeiro lugar, a deformação historicista, que leva a<br />

considerar o fluxo do processo social como um rosário cujas contas são eventos<br />

<strong>da</strong>tados; em segundo lugar, a obsessão de reconstituir um calendário que torne<br />

inteligível a evolução dos povos, e a indiferença por tudo mais (economia,<br />

estruturas sociais, culturas).<br />

Daí essa história linear, genealógica, fatual, em suma, esquelética, pois que<br />

desprovi<strong>da</strong> <strong>da</strong> própria carne <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Um outro desvio, ain<strong>da</strong> mais pernicioso,<br />

oriundo talvez, em parte, do preconceito de primitivismo aplicado à reali<strong>da</strong>de<br />

africana por um evolucionismo sumário, analisa estruturas atemporais, abolindo<br />

a profundi<strong>da</strong>de histórica, sem a qual, no entanto, as referi<strong>da</strong>s estruturas perdem<br />

seu significado tanto objetivo quanto subjetivo. É o que acontece com certos<br />

pesquisadores a quem as disciplinas enchem de auto -suficiência: esses linguistas<br />

alérgicos a to<strong>da</strong> e qualquer interferência cultural e esses etnólogos funcionalistas<br />

que recusam to<strong>da</strong> dimensão histórica. Felizmente, essas “muralhas <strong>da</strong> China”<br />

disciplinares vão desmoronando progressivamente. J. Desmond Clark escreveu:<br />

“A constatação de que arqueólogos, linguistas, antropólogos culturais ou etnógrafos<br />

se defrontam, a maior parte do tempo, com os mesmos problemas e de que a melhor<br />

forma de solucioná -los é a equipe interdisciplinar, é hoje um dos fatores mais<br />

animadores e estimulantes dos estudos africanos”. 2<br />

A pseudo -história marca<strong>da</strong> pelo fascínio exclusivo <strong>da</strong> cronologia, bem como<br />

a miragem <strong>da</strong> análise estrutural puramente estática e formal vão aos poucos<br />

desaparecendo, conforme atestam as escolas que introduzem a diacronia e o<br />

conflito em seus métodos analíticos, integrando, como Calame -Griaule e Houis,<br />

fato cultural e fato linguístico, ou abandonando, como Balandier, a abor<strong>da</strong>gem<br />

imóvel dos “sociólogos” em favor de uma abor<strong>da</strong>gem dinamista, que adota como<br />

instrumentos de análise o movimento e a comparação. Não é a contradição parte<br />

1 A lactação parece ser um processo reflexo. To<strong>da</strong>via, a farmacopeia africana dispunha de receitas para<br />

ativá -lo.<br />

2 CLARK, J. D. “African prehistory; opportunities for collaboration between archaeologists, ethnographers<br />

and linguists.” In: CASS, F. Language and History in Africa. 1970.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!