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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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838 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

semelhantes e graças a uma dinâmica social que modelou o ser humano<br />

pelo menos tanto quanto os impulsos provenientes <strong>da</strong>s profundezas de sua<br />

vitali<strong>da</strong>de, dos meandros de seus lobos cerebrais ou dos interstícios de sua<br />

subconsciência. O fator social teve, aliás, um papel importante no nível <strong>da</strong><br />

agressivi<strong>da</strong>de, pela eliminação violenta dos mais fracos. Assim, o Homo sapiens<br />

teve de expulsar os neandertalenses, após uma espécie de guerra mundial<br />

que durou muitas dezenas de milênios. Mas a dimensão social também<br />

desempenhou um papel mais positivo: “Os estudos comparativos de moldes<br />

endocranianos dos paleantropus e do Homo sapiens revelam justamente que,<br />

nestes últimos, as partes corticais, que estão liga<strong>da</strong>s às funções do trabalho e<br />

<strong>da</strong> fala e à regulação do comportamento do indivíduo no seio <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de,<br />

atingem um desenvolvimento considerável” 7 .<br />

Na ver<strong>da</strong>de, a sociabili<strong>da</strong>de teve um papel fun<strong>da</strong>mental na aquisição <strong>da</strong><br />

linguagem, desde os sinais sonoros her<strong>da</strong>dos dos antepassados animais até os<br />

sons mais articulados, combinados de maneiras diferentes em forma de sílabas.<br />

A fase de lalação, caracteriza<strong>da</strong> por monossílabos, visava a desencadear, como<br />

por reflexo condicionado, um certo ato, gesto ou comportamento, ou ain<strong>da</strong><br />

chamar a atenção para determinado acontecimento ocorrido ou iminente. Em<br />

resumo, no começo a fala era essencialmente relação. Ao mesmo tempo, o<br />

alongamento <strong>da</strong> mandíbula fazia recuar os órgãos <strong>da</strong> garganta, abaixando assim<br />

o ponto de ligação <strong>da</strong> língua. “O fluxo de ar expirado não mais se encaminhava<br />

diretamente para os lábios, como nos macacos, mas transpunha uma série de<br />

barreiras controla<strong>da</strong>s pelos centros corticais” 8 .<br />

Em suma, a fala é um processo dialético entre a biologia, as técnicas e o espírito,<br />

mas depende <strong>da</strong> mediação do grupo. Sem um parceiro a lhe fazer eco, sem um<br />

interlocutor, o homem teria permanecido mudo. Reciprocamente, porém, a fala<br />

é uma aquisição tão preciosa que, nas representações mágicas ou cosmogônicas<br />

africanas, lhe é reconhecido um poder sobre as coisas. O verbo é criador. A palavra<br />

é também o condutor do progresso. É a transmissão dos conhecimentos, a tradição<br />

ou “a herança dos ouvidos”. É a capitalização do saber, que eleva o homem,<br />

definitivamente, acima <strong>da</strong> eterna mecânica fecha<strong>da</strong> do instinto 9 . Enfim, a fala foi<br />

a aurora <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de social, isto é, <strong>da</strong> liderança e do poder.<br />

7 V. P. IAKIMOV, 1972, p. 2.<br />

8 Cf. V. BOUNAK, 1972, p. 69.<br />

9 “Não é a linguagem – que permitiu ao homem conceituar, memorizar e retransmitir os conhecimentos<br />

adquiridos diretamente na experiência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana – o mais extraordinário produto <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de<br />

científica <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des não instruí<strong>da</strong>s?” B. VERHAEGEN, 1974, p. 154.

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