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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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398 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

um encontro, de uma conjugação de forças: a tecnologia, o equipamento<br />

material, o comércio, as vantagens <strong>da</strong> língua, a pertinência <strong>da</strong> organização<br />

política, o impulso do sentimento religioso, etc. Privilegiar de forma abusiva,<br />

como frequentemente acontece, a causa motriz antes de tentar retratar, em sua<br />

profusão vital, a intervenção de to<strong>da</strong>s as causas, é erigir um edifício conceptual<br />

ao invés de procurar reeditar mentalmente o passado. O apanhado global <strong>da</strong><br />

história a partir de muitas fontes torna -se ain<strong>da</strong> mais imperativo em se tratando<br />

de socie<strong>da</strong>des onde a vi<strong>da</strong> é mais integra<strong>da</strong>, menos dicotômica que nos países<br />

onde já se consumou a divisão em classes antagônicas. Na <strong>África</strong>, talvez com<br />

excessiva facili<strong>da</strong>de, fez -se uma distinção entre as socie<strong>da</strong>des com Estado e<br />

as socie<strong>da</strong>des sem Estado, definindo -se evidentemente este último termo em<br />

função <strong>da</strong>s normas <strong>da</strong> experiência coletiva do estudioso. 11 Esquece -se, talvez,<br />

que mesmo em um império como o Mali, a falta de estra<strong>da</strong>s transitáveis e de<br />

administração burocrática, bem como a opção delibera<strong>da</strong> dos dirigentes em<br />

favor <strong>da</strong> descentralização dita<strong>da</strong> pelos fatos, fizeram com que a vi<strong>da</strong> real <strong>da</strong><br />

maioria <strong>da</strong> população se desenrolasse fora do “Estado”, em vilarejos dotados<br />

de uma autonomia milenar e que não estavam ligados ao centro, nem por um<br />

vínculo material concretizado por um feudo, nem pela reali<strong>da</strong>de física <strong>da</strong>s auto-<br />

-estra<strong>da</strong>s ou <strong>da</strong>s vias férreas, nem pela material i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s folhas de impostos e<br />

de decretos de ministérios ou prefeituras. Ignorar tudo isso é condenar -se ao<br />

enfoque simplista que consiste no estabelecimento de listas de reis e príncipes a<br />

respeito dos quais conhecemos apenas um ou dois grandes feitos num reinado de<br />

quinze ou vinte anos, que consagramos como marcos indiscutíveis <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real<br />

dos povos. A imensa maioria dos povos africanos vivia em socie<strong>da</strong>des totais, se<br />

não totalitárias, onde tudo estava interligado, desde a confecção de utensílios até<br />

os ritos agrários, passando pelo cerimonial do amor e <strong>da</strong> morte. No tocante a<br />

isso, a socie<strong>da</strong>de regi<strong>da</strong> pelo “animismo” não é menos integra<strong>da</strong> que a socie<strong>da</strong>de<br />

governa<strong>da</strong> pelo islã. Sob vários aspectos, não se tratava de uma socie<strong>da</strong>de laica.<br />

E considerá -la como tal é desprezar uma parte importante <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Em<br />

suma, nesses países também existe centralização, diferente, porém, <strong>da</strong> que vigora<br />

no Estado moderno, 12 onde é o preço – e o antídoto – <strong>da</strong> divisão extrema<strong>da</strong> do<br />

trabalho social. Por exemplo, entre os Senufo (Poro), os Lobi (Dyoro) e os Diula,<br />

a iniciação desempenhava um papel central em torno do qual se organizava to<strong>da</strong><br />

11 AQUET, J. J. 1961. O autor utiliza alterna<strong>da</strong>mente a análise econômica, sociológica e política para tentar<br />

definir um modelo aplicável à socie<strong>da</strong>de soga.<br />

12 O episódio do povo do Bure, narrado por Ibn Battuta, o prova niti<strong>da</strong>mente: após uma fracassa<strong>da</strong> tentativa<br />

de assimilação, o imperador do Mali acabou por reconhecer-lhe a autonomia cultural.

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