29.03.2013 Views

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

XXII <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

vias que lhes são próprias e que o historiador só pode apreender renunciando a<br />

certos preconceitos e renovando seu método.<br />

Da mesma forma, o continente africano quase nunca era considerado<br />

como uma enti<strong>da</strong>de histórica. Em contrário, enfatizava-se tudo o que pudesse<br />

reforçar a ideia de uma cisão que teria existido, desde sempre, entre uma “<strong>África</strong><br />

branca” e uma “<strong>África</strong> negra” que se ignoravam reciprocamente. Apresentava-se<br />

frequentemente o Saara como um espaço impenetrável que tornaria impossíveis<br />

misturas entre etnias e povos, bem como trocas de bens, crenças, hábitos e ideias<br />

entre as socie<strong>da</strong>des constituí<strong>da</strong>s de um lado e de outro do deserto. Traçavam-se<br />

fronteiras intransponíveis entre as civilizações do antigo Egito e <strong>da</strong> Núbia e<br />

aquelas dos povos subsaarianos.<br />

Certamente, a história <strong>da</strong> <strong>África</strong> norte-saariana esteve antes liga<strong>da</strong> àquela <strong>da</strong><br />

bacia mediterrânea, muito mais que a história <strong>da</strong> <strong>África</strong> subsaariana mas, nos<br />

dias atuais, é amplamente reconhecido que as civilizações do continente africano,<br />

pela sua varie<strong>da</strong>de linguística e cultural, formam em graus variados as vertentes<br />

históricas de um conjunto de povos e socie<strong>da</strong>des, unidos por laços seculares.<br />

Um outro fenômeno que grandes <strong>da</strong>nos causou ao estudo objetivo do passado<br />

africano foi o aparecimento, com o tráfico negreiro e a colonização, de estereótipos<br />

raciais criadores de desprezo e incompreensão, tão profun<strong>da</strong>mente consoli<strong>da</strong>dos<br />

que corromperam inclusive os próprios conceitos <strong>da</strong> historiografia. Desde que<br />

foram emprega<strong>da</strong>s as noções de “brancos” e “negros”, para nomear genericamente<br />

os colonizadores, considerados superiores, e os colonizados, os africanos foram<br />

levados a lutar contra uma dupla servidão, econômica e psicológica. Marcado<br />

pela pigmentação de sua pele, transformado em uma mercadoria entre outras,<br />

e destinado ao trabalho forçado, o africano veio a simbolizar, na consciência de<br />

seus dominadores, uma essência racial imaginária e ilusoriamente inferior: a de<br />

negro. Este processo de falsa identificação depreciou a história dos povos africanos<br />

no espírito de muitos, rebaixando-a a uma etno-história, em cuja apreciação <strong>da</strong>s<br />

reali<strong>da</strong>des históricas e culturais não podia ser senão falsea<strong>da</strong>.<br />

A situação evoluiu muito desde o fim <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, em<br />

particular, desde que os países <strong>da</strong> <strong>África</strong>, tendo alcançado sua independência,<br />

começaram a participar ativamente <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de internacional e<br />

dos intercâmbios a ela inerentes. Historiadores, em número crescente, têm<br />

se esforçado em abor<strong>da</strong>r o estudo <strong>da</strong> <strong>África</strong> com mais rigor, objetivi<strong>da</strong>de e<br />

abertura de espírito, empregando – obviamente com as devi<strong>da</strong>s precauções –<br />

fontes africanas originais. No exercício de seu direito à iniciativa histórica, os<br />

próprios africanos sentiram profun<strong>da</strong>mente a necessi<strong>da</strong>de de restabelecer, em<br />

bases sóli<strong>da</strong>s, a historici<strong>da</strong>de de suas socie<strong>da</strong>des.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!