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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição viva<br />

A fala pode criar a paz, assim como pode destruí -la. É como o fogo. Uma<br />

única palavra imprudente pode desencadear uma guerra, do mesmo modo<br />

que um graveto em chamas pode provocar um grande incêndio. Diz o adágio<br />

malinês: “O que é que coloca uma coisa nas devi<strong>da</strong>s condições (ou seja, a arranja,<br />

a dispõe favoravelmente)? A fala. O que é que estraga uma coisa? A fala. O que<br />

é que mantém uma coisa em seu estado? A fala”.<br />

A tradição, pois, confere a Kuma, a Palavra, não só um poder criador, mas<br />

também a dupla função de conservar e destruir. Por essa razão a fala, por<br />

excelência, é o grande agente ativo <strong>da</strong> magia africana.<br />

A fala, agente ativo <strong>da</strong> magia<br />

Deve -se ter em mente que, de maneira geral, to<strong>da</strong>s as tradições africanas<br />

postulam uma visão religiosa do mundo. O universo visível é concebido e sentido<br />

como o sinal, a concretização ou o envoltório de um universo invisível e vivo,<br />

constituído de forças em perpétuo movimento. No interior dessa vasta uni<strong>da</strong>de<br />

cósmica, tudo se liga, tudo é solidário, e o comportamento do homem em relação<br />

a si mesmo e em relação ao mundo que o cerca (mundo mineral, vegetal, animal<br />

e a socie<strong>da</strong>de humana) será objeto de uma regulamentação ritual muito precisa<br />

cuja forma pode variar segundo as etnias ou regiões.<br />

A violação <strong>da</strong>s leis sagra<strong>da</strong>s causaria uma perturbação no equilíbrio <strong>da</strong>s forças<br />

que se manifestaria em distúrbios de diversos tipos. Por isso a ação mágica,<br />

ou seja, a manipulação <strong>da</strong>s forças, geralmente almejava restaurar o equilíbrio<br />

perturbado e restabelecer a harmonia, <strong>da</strong> qual o Homem, como vimos, havia<br />

sido designado guardião por seu Criador.<br />

Na Europa, a palavra “magia” é sempre toma<strong>da</strong> no mau sentido, enquanto<br />

que na <strong>África</strong> designa unicamente o controle <strong>da</strong>s forças, em si uma coisa neutra<br />

que pode se tornar benéfica ou maléfica conforme a direção que se lhe dê. Como<br />

se diz: “Nem a magia nem o destino são maus em si. A utilização que deles<br />

fazemos os torna bons ou maus”.<br />

A magia boa, a dos iniciados e dos “mestres do conhecimento”, visa purificar<br />

os homens, os animais e os objetos a fim de repor as forças em ordem. E aqui<br />

é decisiva a força <strong>da</strong> fala.<br />

Assim como a fala divina de Maa Ngala animou as forças cósmicas que<br />

dormiam, estáticas, em Maa, assim também a fala humana anima, coloca em<br />

movimento e suscita as forças que estão estáticas nas coisas. Mas para que a fala<br />

produza um efeito total, as palavras devem ser entoa<strong>da</strong>s ritmicamente, porque o<br />

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