29.03.2013 Views

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Lugar <strong>da</strong> história na socie<strong>da</strong>de africana<br />

Em suma, tudo se passa como se na <strong>África</strong> a permanência <strong>da</strong>s estruturas<br />

elementares <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des de base através do movimento histórico tivesse<br />

conferido a todo processo um caráter popular bastante notável. A frágil<br />

envergadura <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des tornou a história uma questão que diz respeito<br />

a todos. Apesar <strong>da</strong> mediocri<strong>da</strong>de técnica dos meios de comunicação (ain<strong>da</strong><br />

que o tan -tã assegurasse a telecomunicação de aldeia para aldeia), a estreita<br />

amplitude do espaço histórico media -se pela apreensão mental de ca<strong>da</strong> um.<br />

Daí a inspiração “democrática” incontestável que anima a concepção africana <strong>da</strong><br />

história na maioria dos casos! Ca<strong>da</strong> um tinha o sentimento de poder, em última<br />

instância, subtrair -se à ditadura, mesmo que fosse através <strong>da</strong> secessão, para<br />

refugiar -se no espaço disponível. O próprio Chaka passou por essa experiência<br />

no fim de sua carreira. Este sentimento de fazer a história mesmo na escala<br />

microcósmica <strong>da</strong> aldeia, assim como a sensação de ser somente uma molécula<br />

na corrente histórica cria<strong>da</strong> pelo rei visto como demiurgo, são muito importantes<br />

para o historiador. Porque constituem em si mesmos fatos históricos e porque<br />

contribuem por sua vez para criar a história.<br />

O tempo africano é um tempo histórico<br />

O tempo africano pode ser considerado um tempo histórico? Alguns afirmam<br />

que não, sustentando que o africano só concebe o mundo como uma reedição<br />

estereotipa<strong>da</strong> do passado. Ele não passaria então de um incorrigível discípulo<br />

do passado repetindo a todo mundo: “Foi assim que os ancestrais fizeram”, para<br />

justificar to<strong>da</strong>s as suas ações e seus gestos. Se fosse assim, Ibn Battuta só teria<br />

encontrado no lugar do Império do Mali comuni<strong>da</strong>des pré -históricas vivendo<br />

em abrigos cavados nas rochas e homens vestidos com peles de animais. O<br />

próprio caráter social <strong>da</strong> concepção africana <strong>da</strong> história lhe dá uma dimensão<br />

histórica incontestável, porque a história é a vi<strong>da</strong> crescente do grupo. Ora, deste<br />

ponto de vista pode -se dizer que para o africano o tempo é dinâmico. Nem na<br />

concepção tradicional, nem na visão islâmica que influenciará a <strong>África</strong>, o homem<br />

é prisioneiro de um processo estático ou de um retorno cíclico. Evidentemente,<br />

na ausência <strong>da</strong> ideia do tempo matemático e físico contabilizado pela adição<br />

de uni<strong>da</strong>des homogêneas e medido por instrumentos confeccionados para esse<br />

fim, o tempo permanece um elemento vivido e social. Nesse contexto, porém,<br />

não se trata de um elemento neutro e indiferente. Na concepção global do<br />

mundo, entre os africanos, o tempo é o lugar onde o homem pode, sem cessar,<br />

lutar pelo desenvolvimento de sua energia vital. Tal é a dimensão principal<br />

31

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!