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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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XLII <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

seu pastor chefe chamava -se Bonke”. Ou ain<strong>da</strong> “Nessa época não se usavam<br />

babuchas, mas chinelas de couro de boi curtido, com um cordão na parte <strong>da</strong><br />

frente (em torno do dedo grande do pé) e um outro no calcanhar”. Enfim, a<br />

narrativa épica é salpica<strong>da</strong> de alusões a técnicas, a objetos que não são essenciais<br />

ao desenvolvimento <strong>da</strong> ação, mas que dão indícios sobre o modo de vi<strong>da</strong>. “Ele<br />

(Da Monzon) convocou, seus sessenta remadores Somono, trinta homens na<br />

proa e trinta na popa. A piroga estava ricamente decora<strong>da</strong>”. “As esca<strong>da</strong>s são<br />

prepara<strong>da</strong>s e coloca<strong>da</strong>s contra a muralha. Os caçadores de Segu sobem de<br />

surpresa e infiltram -se na ci<strong>da</strong>de (...). Os cavaleiros de Segu lançam flechas<br />

flamejantes. As casas <strong>da</strong> aldeia pegam fogo”. Saran, a mulher apaixona<strong>da</strong> por Da<br />

Monzon, vai umedecer a pólvora dos fuzis dos guerreiros de Kore... É por um<br />

diagnóstico rigoroso – que às vezes se vale <strong>da</strong> análise psicanalítica e neste caso<br />

considera as próprias psicoses do público ou dos transmissores <strong>da</strong> tradição – que<br />

o historiador pode atingir a medula substantiva <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de histórica.<br />

Por conseguinte, a multiplici<strong>da</strong>de de versões transmiti<strong>da</strong>s por clãs adversários,<br />

por exemplo, pelos griots -clientes de ca<strong>da</strong> nobre protetor (horon, dyatigui),<br />

longe de constituir uma desvantagem, representa uma garantia suplementar<br />

para a crítica histórica. E a conformi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s narrativas, como no caso dos<br />

griots bambara e peul, que pertencem a campos inimigos, dá um realce particular<br />

à quali<strong>da</strong>de desse testemunho. A história fala<strong>da</strong>, por sua própria poligênese,<br />

comporta elementos de autocensura, como mostra o caso dos Gouro, entre os<br />

quais a tradição esotérica liberal e integracionista, transmiti<strong>da</strong> pelas linhagens,<br />

coexiste com a tradição esotérica oligárquica e meticulosa <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de secreta.<br />

Na ver<strong>da</strong>de, não se trata de uma proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>, mas de um bem indiviso<br />

pelo qual respondem diversos grupos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

O essencial é proceder à crítica interna desses documentos através do<br />

conhecimento íntimo do gênero literário em questão, sua temática e suas técnicas,<br />

seus códigos e estereótipos, as fórmulas de execução, as digressões convencionais,<br />

a língua em evolução, o público e o que ele espera dos transmissores <strong>da</strong> tradição.<br />

E sobretudo a casta destes últimos, suas regras de conduta, sua formação, seus<br />

ideais, suas escolas. Sabe -se que no Mali e na Guiné, por exemplo – em Keyla,<br />

Kita, Niagassola, Niani, etc. –, existem há séculos ver<strong>da</strong>deiras escolas de iniciação.<br />

Essa tradição rígi<strong>da</strong>, institucionaliza<strong>da</strong> e formal é geralmente melhor<br />

estrutura<strong>da</strong> e sustenta<strong>da</strong> pela música de corte que se integra a ela, que a<br />

esconde em partes didáticas e artísticas. Alguns dos instrumentos utilizados,<br />

como o Sosso Balla (balafo de Sumauro Kante), são em si mesmos, por sua<br />

antigui<strong>da</strong>de, monumentos dignos de uma investigação de tipo arqueológico.<br />

Mas as correspondências entre tipos de instrumento e tipos de música, de

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