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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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Descoberta e difusão dos metais e desenvolvimento dos sistemas sociais até o século V antes <strong>da</strong> Era Cristã<br />

O vale inferior do Nilo, de ‑4500 a ‑3000 2<br />

A organização social que se vê, ou melhor, que se imagina instalar -se no<br />

vale inferior do Nilo, no Egito, a partir de -3000, resulta incontestavelmente<br />

<strong>da</strong>s técnicas requeri<strong>da</strong>s pela irrigação para a valorização agrícola do vale. Esta<br />

toma<strong>da</strong> de posse do vale pelo homem teve início no Neolítico, prosseguindo até<br />

o aparecimento de um sistema monárquico unificado.<br />

Heródoto disse, e muitos autores repetiram posteriormente: “O Egito é<br />

uma dádiva do Nilo”. Desde o início <strong>da</strong> época histórica, quando chegava ao fim<br />

o processo de dessecação <strong>da</strong> <strong>África</strong> saariana, do Atlântico ao mar Vermelho, o<br />

Egito não poderia ter vivido sem a inun<strong>da</strong>ção anual do rio; sem a enchente,<br />

seria como o próprio Saara ou o Neguev. Mas esse presente que recebe do<br />

Nilo, que lhe dá vi<strong>da</strong>, pode também transformar -se em catástrofe. No ano 3 de<br />

Osorkon III ( -754), a inun<strong>da</strong>ção foi tão grande que nenhum dique resistiu e<br />

“os templos de Tebas ficaram como um pântano”; o Sumossacerdote de Amon<br />

teve de suplicar ao deus que impedisse as águas de subirem. A mesma catástrofe<br />

ocorreu no ano 6 de Taharqa ( -683), quando todo o vale “transformou -se em<br />

oceano” – embora o rei, temendo perder prestígio, tenha apresentado o fenômeno<br />

como uma bênção do Céu!<br />

As enchentes variam bastante: excessivamente grandes ou pequenas,<br />

raramente como se desejaria que fossem 3 . Assim, de 1871 a 1900, foram<br />

registra<strong>da</strong>s três enchentes fracas, três medíocres, dez benéficas, onze muito<br />

volumosas e três perigosas. Em trinta enchentes, apenas dez puderam ser<br />

considera<strong>da</strong>s satisfatórias 4 .<br />

Portanto, devemos reconhecer que a história <strong>da</strong> civilização na <strong>África</strong> nilótica<br />

é também a <strong>da</strong> “domesticação”, por assim dizer, do Nilo pelo homem. Essa<br />

domesticação exige a construção de diques ou aterros – uns paralelos, outros<br />

perpendiculares em relação ao curso do rio. Esse sistema permite a construção,<br />

em ambas as margens, de bacias artificiais, ou hods, destina<strong>da</strong>s a diminuir a<br />

força <strong>da</strong> enchente, a contê -la e a estendê -la às terras que normalmente não<br />

atingiria.<br />

2 Sobre a formação do Egito (anterior ao Neolítico e ao Calcolítico, que presenciam o desenvolvimento<br />

dos primeiros sistemas sociais) ler o excelente estudo de W. C. HAYES, 1965. Essa obra póstuma,<br />

edita<strong>da</strong> por K. C. SEELE, contém um capítulo inteiro sobre a formação do Egito: I, p. 1 -29, com uma<br />

abun<strong>da</strong>nte bibliografia analítica nas p. 29 -41.<br />

3 Sobre os perigos <strong>da</strong> inun<strong>da</strong>ção, cf. J. BESANÇON, 1957, p. 78 -84.<br />

4 BESANÇON, op. cit, p. 82 -83; bibliografia, p. 387 -88.<br />

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