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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição oral e sua metodologia<br />

Conclusão<br />

Atualmente a coleta de tradições orais está se processando em todos os países<br />

africanos. A massa de <strong>da</strong>dos recolhidos refere -se principalmente ao século XIX e<br />

é somente uma <strong>da</strong>s fontes para a reconstrução histórica, sendo a outra principal<br />

fonte para esse período os documentos históricos. Há cinco ou seis trabalhos,<br />

a ca<strong>da</strong> ano, apresentando estudos baseados quase inteiramente em tradições.<br />

Tipologicamente, eles tratam, sobretudo, <strong>da</strong> história política e <strong>da</strong> história dos<br />

reinos, e, no que diz respeito à geografia, estão concentrados principalmente na<br />

<strong>África</strong> oriental, central e equatorial, onde as tradições, frequentemente, são as<br />

únicas fontes. As cronologias remontam raramente além de 1700; se anteriores<br />

a essa <strong>da</strong>ta, tornam -se duvidosas. Entretanto, o conhecimento ca<strong>da</strong> vez mais<br />

aprofun<strong>da</strong>do <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong>s tradições permite avaliar melhor as que foram<br />

recolhi<strong>da</strong>s em épocas anteriores. Assim, a exploração <strong>da</strong>s tradições registra<strong>da</strong>s<br />

por Cavazzi no século XVII só se tornou possível após o estudo em campo<br />

realizado em 1970!<br />

Além <strong>da</strong>s tradições recentes, existe um vasto corpo de informações literárias,<br />

como as narrativas épicas, e de <strong>da</strong>dos cosmogônicos, que podem ocultar<br />

informações históricas às vezes relativas a épocas bastante remotas. A epopeia<br />

de Sundiata é um exemplo. A tradição, por si mesma, não permite estabelecer<br />

<strong>da</strong>tas. Por exemplo, a memória deforma<strong>da</strong> relativa a certos sítios históricos na<br />

região interlacustre conservou uma lembrança que <strong>da</strong>ta dos primeiros séculos, ou<br />

mesmo de antes <strong>da</strong> Era Cristã. Mas a fonte oral na<strong>da</strong> diz quanto à <strong>da</strong>ta. Somente<br />

a arqueologia foi capaz de solucionar o problema. Assim também as tradições<br />

de Cavazzi, às quais acabamos de nos referir, parecem conter um sedimento<br />

histórico que é do maior interesse para o passado dos povos de Angola. Há<br />

referências sucintas a dinastias que se sucederam, a formas de governo que se<br />

seguiram; em resumo, sumarizam, para a região do Alto Cuango, mu<strong>da</strong>nças<br />

socio políticas que podem <strong>da</strong>tar de vários séculos ou até de um milênio antes de<br />

1500. Mas não há nenhuma <strong>da</strong>ta como ponto de referência para essa perspectiva.<br />

Existe uma última armadilha a ser nota<strong>da</strong>. Muito frequentemente a coleta<br />

de tradições ain<strong>da</strong> parece superficial, e sua interpretação muito literal, muito<br />

“cola<strong>da</strong>” à cultura em questão. Esse fenômeno vem reforçar a imagem de uma<br />

<strong>África</strong> cuja história consiste apenas em origens e migrações, o que, sabemos, não<br />

é ver<strong>da</strong>de. Mas devemos admitir que essa é a imagem refleti<strong>da</strong> pelas tradições<br />

que procuram estabelecer uma “identi<strong>da</strong>de”. A superficiali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> interpretação<br />

e a coleta pouco sistemática de material, além do mais, dão margem à maioria<br />

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