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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição viva<br />

Em to<strong>da</strong> a tradição do Bafur, o nobre ou o chefe não só é proibido de tocar<br />

música em reuniões públicas, mas também deve ser moderado na expressão e<br />

na fala. “Muita conversa não convém a um Horon”, diz o provérbio. Assim, os<br />

griots ligados às famílias acabam por desempenhar naturalmente o papel de<br />

mediadores, ou mesmo de embaixadores, caso surjam problemas de menor ou<br />

maior importância. Eles são “a língua” de seu mestre.<br />

Quando ligados a uma família ou pessoa, geralmente ficam encarregados de<br />

alguma missão corriqueira e particularmente <strong>da</strong>s negociações matrimoniais. Para<br />

<strong>da</strong>r um exemplo, um jovem nobre não se dirigirá diretamente a uma jovem para<br />

dizer -lhe de seu amor. Fará do griot o porta -voz que entrará em contato com a moça<br />

ou com sua griote para falar dos sentimentos de seu mestre e louvar -lhe os méritos.<br />

Uma vez que a socie<strong>da</strong>de africana está fun<strong>da</strong>mentalmente basea<strong>da</strong> no diálogo<br />

entre os indivíduos e na comunicação entre comuni<strong>da</strong>des ou grupos étnicos,<br />

os griots são os agentes ativos e naturais nessas conversações. Autorizados a<br />

ter “duas línguas na boca”, se necessário podem se desdizer sem que causem<br />

ressentimentos. Isso jamais seria possível para um nobre, a quem não se permite<br />

voltar atrás com a palavra ou mu<strong>da</strong>r de decisão. Um griot chega até mesmo a<br />

arcar com a responsabili<strong>da</strong>de de um erro que não cometeu a fim de remediar<br />

uma situação ou de salvar a reputação dos nobres.<br />

É aos velhos sábios <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, em suas audiências secretas, que cabe o<br />

difícil dever de “olhar as coisas pela janela certa”; mas cabe aos griots cumprir<br />

aquilo que os sábios decidiram e ordenaram.<br />

Treinados para colher e fornecer informações, eles são os grandes portadores<br />

de notícias, mas igualmente, muitas vezes, grandes difamadores.<br />

O nome dieli em bambara significa sangue. De fato, tal como o sangue, eles<br />

circulam pelo corpo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, que podem curar ou deixar doente, conforme<br />

atenuem ou avivem os conflitos através <strong>da</strong>s palavras e <strong>da</strong>s canções.<br />

É necessário acrescentar, entretanto, que se trata aqui apenas de características<br />

gerais e que nem todos os griots são necessariamente desavergonhados ou cínicos.<br />

Pelo contrário, entre eles existem aqueles que são chamados de dieli ‑faama, ou<br />

seja, “griots -reis”. De maneira nenhuma estes são inferiores aos nobres no que se<br />

refere a coragem, morali<strong>da</strong>de, virtudes e sabedoria, e jamais abusam dos direitos<br />

que lhes foram concedidos por costume.<br />

Os griots foram importante agente ativo do comércio e <strong>da</strong> cultura humana.<br />

Em geral dotados de considerável inteligência, desempenhavam um papel de<br />

grande importância na socie<strong>da</strong>de tradicional do Bafur devido à sua influência<br />

sobre os nobres e os chefes. Ain<strong>da</strong> hoje, em to<strong>da</strong> oportuni<strong>da</strong>de, estimulam e<br />

suscitam o orgulho do clã dos nobres com suas canções, normalmente para<br />

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