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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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<strong>Pré</strong> -<strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>África</strong> do Norte<br />

A etnia capsiense inuma seus mortos segundo ritos variados, frequentemente<br />

em decúbito lateral fletido. O emprego contínuo do ocre permanece um mistério.<br />

Mais surpreendente ain<strong>da</strong> é a utilização <strong>da</strong>s ossa<strong>da</strong>s humanas; a mais inespera<strong>da</strong><br />

é o “crânio troféu”, usado talvez como máscara, descoberto em Faid Souar (Ain<br />

Bei<strong>da</strong>, Argélia). Quanto aos vivos, os capsienses praticavam mutilações dentárias;<br />

nas mulheres, tal prática chegava a atingir os oito incisivos.<br />

Entretanto, são os primeiros artistas do Magreb: objetos de adereço, cascas de<br />

ovos de avestruz grava<strong>da</strong>s desde o Capsiense típico, plaquetas grava<strong>da</strong>s, pedras<br />

esculpi<strong>da</strong>s que podem até prenunciar a arte parietal.<br />

Neolitização e neolíticos<br />

Desde 1933, a visão que podemos ter do Neolítico na <strong>África</strong> do norte foi<br />

ordena<strong>da</strong>, sistematiza<strong>da</strong> e uniformiza<strong>da</strong> por R. Vaufrey. O “Neolítico de Tradição<br />

Capsiense”, que este autor localizou por todo o Magreb, o Saara e uma parte <strong>da</strong><br />

<strong>África</strong> ao sul do Saara, tornou -se tão aceito que a sigla “NTC” passou a ser de<br />

uso corrente. Entretanto, Dr. Gobert e eu mesmo tínhamos expressado grandes<br />

dúvi<strong>da</strong>s a respeito do caráter artificial dessa construção, basea<strong>da</strong> num processo<br />

de adições sucessivas cujo conjunto nos parecia discor<strong>da</strong>nte.<br />

Na ver<strong>da</strong>de, não havíamos compreendido a linha <strong>da</strong>s deduções de R. Vaufrey.<br />

Por que havia ele tomado como sítio de referência a jazi<strong>da</strong> mais pobre <strong>da</strong> Meseta<br />

de Jaatcha (Tunísia)? Em sua tese (1976), G. Roubet expôs o encaminhamento<br />

do raciocínio de R. Vaufrey. Não é o Neolítico em si que o interessa; ele quer<br />

apenas mostrar a conservação de uma “tradição capsiense” que se atenua<br />

progressivamente ao distanciar -se <strong>da</strong>s fontes originais. Assim, o Neolítico foi<br />

apenas um epifenômeno do Capsiense. A extensão pretendi<strong>da</strong> para o NTC<br />

justifica -se pelo enxerto de elementos culturais considerados neolíticos, o<br />

que resulta numa concepção “tipológica” do Neolítico e não considera o que<br />

ultrapassa e explica as revoluções técnicas: a perturbação do gênero de vi<strong>da</strong>. De<br />

fato, a persistência <strong>da</strong> tradição capsiense refuta a teoria do desenvolvimento de<br />

uma cultura neolítica. As pontas projéteis, “pontas de flechas”, tão abun<strong>da</strong>ntes no<br />

Saara, são testemunhas do prolongamento de um gênero de vi<strong>da</strong> de caçadores-<br />

-pre<strong>da</strong>dores que não se poderia qualificar como neolítico.<br />

Nessas condições, deve -se confinar o Neolítico de tradição capsiense aos<br />

limites originais. Foi o que fez C. Roubet, baseando -se nas escavações <strong>da</strong> gruta<br />

Capeletti (Aurês, Argélia). Ao lado <strong>da</strong> indispensável tipologia, a ecologia torna-<br />

-se essencial, ou seja, o conhecimento do meio em que os homens viviam. Assim,<br />

pode ser defini<strong>da</strong> uma economia pastoral pré -agrícola, transumante, que não é<br />

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