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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A evolução <strong>da</strong> historiografia <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

resultado não é somente uma história do Império Songhai, de sua conquista e<br />

dominação pelos marroquinos, mas também uma tentativa de determinar o que<br />

era importante na história pregressa <strong>da</strong> região, sobretudo nos antigos impérios<br />

de Gana e do Mali. Em função disso, é importante distinguir os Ta’rikh de<br />

Tombuctu de outras obras históricas escritas em árabe pelos africanos, tais<br />

como as conheci<strong>da</strong>s pelos nomes de Crônica de Kano e Crônica de Kilwa 5 . Estes<br />

últimos nos oferecem somente anotações diretas, por escrito, de tradições que até<br />

então eram, sem dúvi<strong>da</strong> alguma, transmiti<strong>da</strong>s oralmente. Embora uma versão <strong>da</strong><br />

Crônica de Kilwa pareça ter sido utiliza<strong>da</strong> pelo historiador português de Barros<br />

no século XVI, não há na<strong>da</strong> que prove que a Crônica de Kano tenha existido<br />

antes do início do século XIX.<br />

É interessante notar que as crônicas dessa natureza escritas em árabe não<br />

se limitam necessariamente às regiões <strong>da</strong> <strong>África</strong> que foram inteiramente<br />

islamiza<strong>da</strong>s. Assim, o centro <strong>da</strong> atual Gana produziu sua Crônica de Gonja (Kitab<br />

al ‑Ghunja) no século XVIII e as recentes pesquisas de especialistas como Ivor<br />

Wilks revelaram centenas de exemplos de manuscritos árabes provenientes dessa<br />

região e de regiões vizinhas 6 . Por outro lado, é preciso não esquecer que uma<br />

parte <strong>da</strong> <strong>África</strong> tropical – a atual Etiópia – possuía sua própria língua semítica,<br />

inicialmente o gueze e mais tarde o amárico, na qual uma tradição literária foi<br />

preserva<strong>da</strong> e desenvolvi<strong>da</strong> durante quase 2 mil anos. Sem dúvi<strong>da</strong> nenhuma, essa<br />

tradição produziu obras históricas já no século XIV, <strong>da</strong>s quais um exemplo é<br />

a <strong>História</strong> <strong>da</strong>s Guerras, de Am<strong>da</strong> Syôn 7 . As obras históricas escritas em outras<br />

línguas africanas como o haussa e o swahili, distintas <strong>da</strong>s escritas em árabe<br />

clássico importado mas utilizando sua escrita, só apareceram no século XIX.<br />

No século XV os europeus começaram a entrar em contato com as regiões<br />

costeiras <strong>da</strong> <strong>África</strong> tropical, fato que desencadeou a produção de obras literárias<br />

que constituem preciosas fontes de estudo para os historiadores modernos.<br />

Quatro regiões <strong>da</strong> <strong>África</strong> tropical foram objeto de particular atenção: a costa<br />

<strong>da</strong> Guiné na <strong>África</strong> ocidental; a região do Baixo Zaire e de Angola; o vale<br />

do Zambeze e as terras altas vizinhas; e, por fim, a Etiópia. Nessas regiões,<br />

durante os séculos XVI e XVII, houve uma considerável penetração em direção<br />

ao interior. Mas, como no caso dos escritores antigos, clássicos, ou árabes, o<br />

5 Pode -se encontrar uma tradução inglesa <strong>da</strong> Crônica de Kano em H. R. PALMER, 1928, vol. 3, p. 92 -132,<br />

e <strong>da</strong> Crônica de Kilwa em G. S. P. FREEMAN -GRENVILLE, 1962, p. 34 -49.<br />

6 Sobre a Crônica de Gonja e a coleção de manuscritos árabes na atual Gana, ver Nehemin LEVTZION,<br />

1968, p. 27 -32 sobretudo; Ivor WILKS, 1963, p. 409 -17; e Thomas HODGKIN, 1966, p. 442 -60.<br />

7 Existem várias traduções dessa obra, sobretudo uma (em francês) de J. PERRUCHON no Journal<br />

Asiatique, 1889.<br />

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