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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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8 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

de correntes de pensamento oriun<strong>da</strong>s do Renascimento, do Iluminismo e <strong>da</strong><br />

crescente revolução científica e industrial. O resultado foi que, baseando -se no<br />

que era considerado uma herança greco -romana única, os intelectuais europeus<br />

convenceram -se de que os objetivos, os conhecimentos, o poder e a riqueza<br />

de sua socie<strong>da</strong>de eram tão preponderantes que a civilização europeia deveria<br />

prevalecer sobre to<strong>da</strong>s as demais. Consequentemente, sua história constituía<br />

a chave de todo conhecimento, e a história <strong>da</strong>s outras socie<strong>da</strong>des não tinha<br />

nenhuma importância. Esta atitude era adota<strong>da</strong> sobretudo em relação à <strong>África</strong>.<br />

De fato, nessa época os europeus só conheciam a <strong>África</strong> e os africanos sob<br />

o ângulo do comércio de escravos, num momento em que o próprio tráfico<br />

era causador de um caos social ca<strong>da</strong> vez mais grave em numerosas partes do<br />

continente.<br />

Hegel (1770 -1831) definiu explicitamente essa posição em sua Filosofia<br />

<strong>da</strong> <strong>História</strong>, que contém afirmações como as que seguem: “A <strong>África</strong> não é um<br />

continente histórico; ela não demonstra nem mu<strong>da</strong>nça nem desenvolvimento”.<br />

Os povos negros “são incapazes de se desenvolver e de receber uma educação.<br />

Eles sempre foram tal como os vemos hoje”. É interessante notar que, já em 1793,<br />

o responsável pela publicação do livro de Dalzel julgara necessário justificar o<br />

surgimento de uma história do Daomé. Assumindo claramente a mesma posição<br />

de Hegel, ele declarava:<br />

“Para chegar a um justo conhecimento <strong>da</strong> natureza humana, é absolutamente necessário<br />

preparar o caminho através <strong>da</strong> história <strong>da</strong>s nações menos civiliza<strong>da</strong>s (…) (Não há<br />

nenhum outro) meio de julgar o valor <strong>da</strong> cultura, na avaliação <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de humana, a<br />

não ser através de comparações deste tipo” 13 .<br />

Ain<strong>da</strong> que a influência direta de Hegel na elaboração <strong>da</strong> história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

tenha sido fraca, a opinião que ele representava foi aceita pela ortodoxia histórica<br />

do século XIX. Essa opinião anacrônica e destituí<strong>da</strong> de fun<strong>da</strong>mento ain<strong>da</strong> hoje<br />

não deixa de ter adeptos. Um professor de <strong>História</strong> Moderna na Universi<strong>da</strong>de<br />

de Oxford, por exemplo, teria declarado:<br />

“Pode ser que, no futuro, haja uma história <strong>da</strong> <strong>África</strong> para ser ensina<strong>da</strong>. No presente,<br />

porém, ela não existe; o que existe é a história dos europeus na <strong>África</strong>. O resto são<br />

trevas… e as trevas não constituem tema de história. Compreen<strong>da</strong>m -me bem. Eu<br />

não nego que tenham existido homens mesmo em países obscuros e séculos obscuros,<br />

nem que eles tenham tido uma vi<strong>da</strong> política e uma cultura interessantes para os<br />

13 DALZEL, Archibald. The History of Dahomey (1793) p.v.

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