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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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XLIV <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

a ser feito nesse campo, começando pela catalogação científica <strong>da</strong>s línguas.<br />

Na ver<strong>da</strong>de, não é necessário sacrificar a abor<strong>da</strong>gem descritiva à abor<strong>da</strong>gem<br />

comparatista e sintética com pretensões tipológicas e genéticas. É por meio<br />

de uma análise ingrata e minuciosa do fato linguístico, com seu significante<br />

de consoantes, vogais e tons, com suas latitudes combinatórias em esquemas<br />

sintagmáticos, “com seu significado vivido pelos falantes de uma determina<strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de” 15 , que se pode fazer extrapolações retroativas, operação que muitas<br />

vezes se torna difícil pela falta de conhecimento histórico profundo dessas<br />

línguas. De modo que elas só podem ser compara<strong>da</strong>s a partir de seu extrato<br />

contemporâneo pelo método sincrônico, base indispensável para to<strong>da</strong> síntese<br />

diacrônica e genética. A tarefa é árdua, e é compreensível que duelos de erudição<br />

aconteçam em algumas áreas, particularmente no que diz respeito à língua<br />

bantu. Malcolm Guthrie, por exemplo, sustenta a teoria <strong>da</strong> autogênese, enquanto<br />

Joseph Greenberg defende com veemência a tese de que as línguas bantu<br />

devem ser coloca<strong>da</strong>s num contexto continental mais amplo. Isto se justifica,<br />

diz Greenberg, pelo fato de as semelhanças existentes não serem analogias<br />

acidentais resultantes de influências externas, mas derivarem de um parentesco<br />

genético intrínseco, expresso em centenas de línguas – desde o wolof até o baka<br />

(República do Sudão) – pelas similitudes dos pronomes, do vocabulário de base<br />

e <strong>da</strong>s características gramaticais, como o sistema de classes nominais. Para o<br />

historiador, todos esses debates não são meros exercícios acadêmicos. Um autor<br />

que se baseie, por exemplo, na distribuição dos grupos de palavras análogas<br />

que designam o carneiro na <strong>África</strong> central na orla <strong>da</strong> floresta constatará que<br />

esses grupos homogêneos não ultrapassam a franja vegetal, mas distribuem -se<br />

paralelamente a ela. Isto sugere uma distribuição dos rebanhos de acordo com<br />

os paralelos dos dois biótopos contíguos <strong>da</strong> savana e <strong>da</strong> floresta, ao passo que,<br />

mais a leste, o padrão linguístico se ordena claramente em faixas meridianas <strong>da</strong><br />

<strong>África</strong> oriental para a <strong>África</strong> austral, o que supõe um caminho de introdução<br />

perpendicular à primeira, e ilustra a contrario o papel inibidor <strong>da</strong> floresta na<br />

transmissão <strong>da</strong>s técnicas 16 . Esse papel, no entanto, não é idêntico para to<strong>da</strong>s<br />

as técnicas. Em suma, os estudos linguísticos demonstram que as rotas e os<br />

caminhos <strong>da</strong>s migrações, assim como a difusão de culturas materiais e espirituais,<br />

são marcados pela distribuição de palavras aparenta<strong>da</strong>s. Daí a importância <strong>da</strong><br />

análise linguística diacrônica e <strong>da</strong> glotocronologia para o historiador que deseja<br />

compreender a dinâmica e o sentido <strong>da</strong> evolução.<br />

15 Cf. HOUIS, M. 1971, p. 45.<br />

16 Cf. EHRET, C. 1963, p. 213 -221.

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